quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Carpinejando fica mais fácil, ou não!

E ele veio a BH ontem no Sempre um Papo. Carpinejar. Falante, altivo, divertido. Sentado ao lado do Afonso Borges - mediador e coordenador do projeto - Carpinejar falou, gesticulou, tirou onda, riu, fez rir, gargalhar e... pensar.

Falou sobre o amor. Disse ele que "somos terroristas no amor, queremos terminar o tempo todo". Quando amamos o outro, passamos a admirar o defeito que tanto combatemos - aquele que quase foi o motivo para terminarmos o romance, namoro, casamento... Carpinejando: "O casal ama o defeito. Passa-se a ter vaidade pelo defeito".

Falando sobre o livro Mulher Perdigueira, ele não poupou nem mesmo quem cria histórias. O escritor pode ter ciúmes de uma personagem? Para Carpinejar, "a pior coisa é ficar com ciúme de um personagem. Isso que é dor de corno!"

E a literatura - o que é? "Gostar dificilmente do que se é!" Muitos escrevem porque não se aceitam e escrevem como refúgio para a não aceitação. Ele tenta resolver os próprios dilemas. Suas crônicas que não falam apenas do cotidiano, mas de sentimentos, vêm da aceitação. Para Carpinejar, "não há elevação que não venha do patético." Adverte: "escritor que tenta passar uma única imagem não é legal. Escritor tem que passar suas contradições".

Uma pergunta que não queria calar:

Quando você escreve, Carpinejar? Ou como você faz para escrever estando 21 dias por mês na estrada, viajando, dando palestras, entrevistas, lançando livros? Ah... Ele se concentra na dispersão e o momento da palestra, para ele, também é criação. "Crônica é conversa, não é monólogo!" "O texto nunca se faz sozinho. Faz-se no diálogo". Citou o quarteto mineiro que sabia "puxar angústia": "Fernando Sabino cutucava Paulo Mendes Campos que cutucava Otto Lara Resende que cutucava Hélio Pellegrino" - não necessariamente nesta ordem, é claro.

A leitura, Carpinejar, serve pra quê? "Suportar a solidão. A leitura organiza a própria vida. Mas a letra é o fantasma. Quem tem medo de fantasma não lê. E o maior suspense não vem do terror, mas das histórias de amor".

A escrita poética, o poeta... "A expressão poética vai trabalhar a sugestão - o deixar de dizer. O poeta é aquele que deixa de dizer. Poema se faz da intensidade, mas tem que ter a surpresa, o silêncio, o que não é dito."

Ah a pausa poética onde nos perdemos pra depois nos encontrar... Sem ela, o poema fala demais e perde bastante o seu encanto, ou todo ele. Carpinejar tem razão.

São Pedro não deu trégua. Carpinejar não deu a menor bola pra ele. Fez chuva de espuma. Esquecemos que lá fora chovia. Voltamos pra casa na chuva, carpinejando...

Viviane Campos Moreira.
Postado em Balaio da Vivi

3 comentários:

  1. Transferido pra cá o comentário de Célia feito por e-mail:
    Vide,
    Carpinejar faz essas coisas com os seus leitores, torna-os cúmplices, reféns de suas palavras, que até esquecemos a chuva.
    Isso é encantador - fazer uma mulher 'nadar' na chuva, não se importar com ela, ou carpinejar na chuva - é algo incrível para os padrões de uma mulher adulta.
    Parabéns ao autor por conseguir isso. Parabéns a você, Vide, por conseguir resgatar algo que só temos enquanto crianças, um misto de adoração e desprezo pela chuva.
    Adorei o seu texto, fiquei até com uma ponta de inveja por não ter participado desse encontro marcado, não Sabino, desse encontro molhado, a la Carpinejar.
    bjs
    Célia

    ResponderExcluir
  2. Olá!

    Nem todos estão conseguindo deixar comentários aqui... Não tem problema. Podem mandar por e-mail que eu posto aqui no Balaio. Sem essa de barreira. Se vc não tem conta no gmail nem orkut nem blog nem outro, e quer comentar, pode mandar seu comentário por e-mail. ESTE balaio é democrático!

    Célia, muito lindo o seu comentário.

    Bjocas.

    ResponderExcluir
  3. Vivi, essa parte: " a gente quando ama, passa a admirar os defeitos", é valioso, pois assim deveria ser em todos os aspectos. Defeitos todos temos, então por que não transformá-los?
    Xeros

    ResponderExcluir