quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Inteligente e brega - ser ou não ser?

“Bancar inteligente é brega!” Educadores na Inglaterra vêm evitando o uso da palavra clever – inteligente. Os melhores alunos, os CDFs, são vítimas de bullying*. Muitos alunos, agraciados com prêmios escolares, recusam-se a recebê-los “por medo de serem ridicularizados pelos colegas”.

Segundo Simon Smith, professor da Essex, “entre os estudantes de hoje, ser inteligente simplesmente não está mais na moda. (...) Ser inteligente significa, sobretudo, ser chato, possuir uma personalidade sem graça, ser o queridinho dos professores. (...)”

Como relata Ann Nuckley, administradora escolar em Southwark (região sudeste de Londres), “muitos estudantes preferem adotar como modelo as celebridades do momento, aqueles personagens que transitam pelas revistas de fofoca social, ou as que analisam nos mínimos detalhes a gloriosa existência do último garotão que, da noite para o dia, saiu do anonimato para a luz do estrelato, graças a um papel na novela da televisão”.

*Fonte: revista Planeta, edição 457, outubro 2010, p. 34-35.


* * *

Lembro-me de ter ouvido uma vez - faz tempo isso... se a minha memória não falha - Joelmir Beting dizer que não conhecia nenhum CDF que teria se arrependido de sê-lo.

De acordo com a matéria, baseada nas relações entre estudantes ingleses, ser reconhecido como inteligente hoje não é nada confortável. Envergonha, pode ser muito estressante e perigoso. Fico me perguntando, no entanto, onde foi parar o invejável humor inglês?

Levando em conta os efeitos da padronização no mundo fundado na cultura da imagem, ser CDF hoje pode ser algo mesmo desconcertante – uma posição fora do foco das lentes do espetáculo. Seriam os CDFs “os desajustados” do momento? Longe dos holofotes, porém, e chamuscados pelo brilho da inteligência, eles se escondem. Mas que falta faz o humor subversivo na contemporaneidade!

E você? Conhece algum CDF arrependido? Ou algum ex-CDF “feliz”?

*Sobre Bullying: Zoar tem limite!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Cartilha sobre Bullying

Judiciário e escolas unidos no combate ao bullying*. A cartilha foi lançada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). São 16 páginas com orientações destinadas a pais, alunos e professores. Serão distribuídos 46 mil exemplares a escolas públicas e particulares e órgãos da Justiça em todo o País.

A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva (Mentes Inquietas; Mentes perigosas; Bullying:mentes perigosas nas escolas) é autora do texto da cartilha. Ela traça os perfis das vítimas e dos agressores (os bullies).

De acordo com a cartilha, o bullying pode começar em casa com a falta de uma boa educação. Em outras palavras, com a falta de limites. É preciso saber ensinar ao filho sobretudo o que é brincadeira e o que não é. Esta é mesmo uma questão que envolve os pais.

*Fonte: Estado de Minas, Gerais, p. 21, 25/10/2010.

Cartilha Bullying 2010: acesse.


* * *

O bullying também foi objeto de campanha nos EUA. Obama participou de um vídeo que orienta as vítimas de bullying a procurar ajuda, pra que elas não se isolem ainda mais; o que tem provocado baixo rendimento escolar. Entre as vítimas de bullying, destacam-se os gays.

Mais sobre bullying: aqui e aqui.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Reforma da Lei Seca

Juristas* destacam a urgência da reforma da Lei n. 11.705 de 19 de junho de 2008, a Lei Seca.

“A 6ª Turma do STJ decidiu arquivar uma ação penal contra um motorista de São Paulo flagrado na contramão e com sintomas de embriaguez. Abordado pela Polícia Militar, ele se recusou a se submeter ao exame de sangue, amparado no princípio constitucional segundo o qual ninguém é obrigado a produzir prova contra si. Diante da recusa, o condutor foi autuado pelo militar, com base nos sintomas de que dirigia alcoolizado.” “Os julgadores deram razão ao infrator: os ministros do STJ entenderam que a embriaguez deve ser comprovada mediante teste de bafômetro ou exame de sangue”. Na falta destes meios de prova, resta prejudicada a comprovação da embriaguez e, consequentemente, a culpabilidade. O acusado não responde penalmente, embora sofra outras sanções.

Para o presidente da OAB-MG, Luís Cláudio Chaves, a saída estaria na reforma da legislação no tocante aos meios de prova, pois a Lei Seca “adotou o chamado critério objetivo, que exige provas periciais para a punição”. Segundo Luís Cláudio, outros meios de prova deveriam ser admitidos, como filmagens e prova testemunhal para a comprovação do estado de embriaguez do condutor do veículo.


*Fonte: Estado de Minas, p. 21, 16/10/2010.


* * *


Esta questão não é nova. Desde o advento do Código Nacional de Trânsito, instituído pela Lei n. 9.503 de 23 de setembro de 1997, juristas, como Paulo Rangel, apontam “o vício de inconstitucionalidade” do art. 277 do CTN que exige que o condutor do veículo, suspeito de embriaguez, submeta-se ao teste do bafômetro. Tal imposição fere o princípio da presunção de inocência (art. 5º, inciso LVII da CRFB) que "reafirma", com status de garantia constitucional, a quem cabe o ônus da prova. O acusado não deve e não tem que constituir prova contra si, pois, no processo penal, o ônus de provar o que se alega é da acusação. Segundo Paulo Rangel, no CTN, ao contrário do que prevê a Constituição da República, como garantia fundamental do acusado à não autoincriminação, “o ônus da prova é do condutor do veículo e não do Estado”. (RANGEL, 2001).


Mais:Artigo sobre a Lei Seca

terça-feira, 19 de outubro de 2010

LUSCO-FUSCO


Hara Cerâmica*
Foto: Miguel Aun.



perdida na saliva
do seu beijo
gozado

caí
no engano
do seu encanto

não
no conto
do vigário

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Viviane Campos Moreira.
Poema inscrito na BPP6.
Evento realizado pelo GOM
Grupo de Oficcina Multimédia - BH (MG)

*Raku. Catálogo cedido por Liege Mendes.

Mais: MENSAGEM PARA BARTHES.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Calhordas anônimos


Jaguar em Livro de Versos do Rubem Braga.



Quem são eles? Quem entra no clube? E quem dele não sai nem mesmo morto?

Os calhordas anônimos são uma categoria nova de calhordas. Em época de campanha eleitoral, eles plantam na web informações sem fonte nem autoria, e-mails estranhos, com recortes e montagens e xingamentos porque eles ainda não sabem que a comunicação na internet está à frente da falta de educação deles. Sim, eles ainda conseguem muita coisa com o jeitão anárquico da internet, mas se enganam com a comunicação que vem sendo feita nas mídias sociais por meio de produtores de informação que não pertencem ao clube. Os calhordas sempre cometem o mesmo erro: subestimam quem está fora do clube. Isso mesmo, os calhordas anônimos não levam em conta que hoje estamos na era da produção de informação: o consumidor passivo de informação está em extinção e duvido muito que a espécie queira ser preservada. Aquele consumidor passivo que só recebia a informação sem manifestar sua opinião está acabando – restam alguns, no entanto, que são alvos dos calhordas anônimos, pois na internet “democrática” tem lugar pra todos. Cuidado, portanto, com eles, os calhordas anônimos.

Curioso que há uma descrição dos calhordas que permanece bem atual. Rubem Braga traçou um perfil maravilhoso. É um poema de 1953 que se encontra no livro de poesia do Rubem Braga - que era cronista e fazia poesia em prosa. Tenho o exemplar de Livro de Versos , edição em comemoração aos 80 anos do Braga, com prefácio de Affonso Romano de Sant’Anna e ilustrações de Scliar e Jaguar. O meu foi comprado em sebo, e mesmo amando vocês, não o empresto. Salve, Braga!


* * *


ODE AOS CALHORDAS


Os calhordas são casados com damas gordas
Que às vezes se entregam à benemerência:
As damas dos calhordas chamam-se calhôrdas
E cumprem seu dever com muita eficiência

Os filhos dos calhordas vivem muito bem
E fazem tolices que são perdoadas.
Quanto aos calhordas pessoalmente porém
Não fazem tolices – nunca fazem nada.

Quando um calhorda se dirige a mim
Sinto no seu olho certa complacência.
Ele acha que o pobre e o remediado
Devem procurar viver com decência.

Os calhordas às vezes ficam resfriados
E essa notícia logo vem nos jornais:
“O Sr. Calhorda acha-se acamado
E as lamentações da Pátria são gerais.”

Os calhordas não morrem – não morrem jamais
Reservam o bronze para futuros bustos
Que outros calhordas da nova geração
Hão de inaugurar em meio de arbustos.

O calhorda diz: “Eu pessoalmente
Acho que as coisas não vão indo bem
Pois há muita gente má e despeitada
Que não está contente com aquilo que tem.”

Os calhordas recebem muitos telegramas
E manifestações de alegres escolares
Que por este meio vão se acalhordando
E amanhã serão calhordas exemplares.

Os calhordas sorriem ao Banco e ao Poder
E são recebidos pelas Embaixadas.
Gostam muito de missas de ação de graças
E às sextas-feiras comem peixadas.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Dançando com a Goldie e o Woody

Um homem e uma mulher, que foram casados, continuaram muito amigos, além de um fazer parte da vida do outro. O afeto não se perdeu entre eles e foi passado pra frente. O ex-marido permaneceu na nova família da ex-mulher. Todos vão passar o Natal em Paris e em um momento de uma grande festa parisiense, ela, conversando com ele, lembra de momentos deles em Paris, décadas atrás... Então, ela propõe a ele fugir da festa pra dar uma volta pela cidade. Ele a leva a um lugar exuberante e lá eles relembram uma canção... A canção: I'm thru with love.

Ohhh, tudo isso nas margens do Sena!

Vídeo: Cena de Todos dizem eu te amo

OBS.: para acessar o vídeo, clique no link acima, sob Cena de Todos dizem eu te amo.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sexualidade formal?

Oscar Wilde, crítico do puritanismo da sociedade vitoriana e provocador, dizia que a felicidade de um homem casado dependia das mulheres com as quais não se casou. Quando os próprios homens fizeram coro com os Rolling Stones em Let’s spend the night together, em 1967, uma outra mulher foi cantada.

- Não podemos passar a noite juntos? Não somos capazes de sustentar nosso desejo? Que liberdade é essa?

Mais ou menos assim, os homens ficaram ao lado da Nova Mulher, e uma outra cultura foi inscrita sobre os escombros de uma sociedade em que os homens exercitavam o direito ao prazer sem confrontos com a igualdade, dentro ou fora do casamento.

Rompidos os pactos com a opressão da cultura patriarcal, as mulheres tornaram-se responsáveis pelo destino da sua sexualidade. Novos tempos para homens e mulheres com direito igual ao prazer. Hoje, “vamos passar a noite juntos” pode ser o convite de um homem para uma mulher ou de uma mulher para um homem só por uma noite, ou não.

Mas o que pretendiam aqueles rapazes e moças bem-intencionados?

Sem os rígidos padrões e os velhos costumes, estaríamos bem resolvidos. Acreditava-se que a liberdade sexual era para ser vivida. Temia-se que a revolução sexual pudesse se tornar mais uma ideia vazia, como tantas outras… "É proibido proibir, tudo é permitido!” foi o slogan ideológico das gerações de 68.

Falou-se sobre sexo. Mitos foram debatidos. Não muito tempo atrás, as mulheres (mães desses rapazes e moças) não tinham espaço para falar de sexo, a não ser nos consultórios médicos. A sexualidade foi para a esfera política. E a política no lugar da repressão sexual mudou o cenário da sexualidade no mundo. O prazer desvinculou-se da culpa.

De lá para cá, o espaço da política foi surpreendentemente afetado por outros interesses. A aversão dos revolucionários a proibições relacionadas com a sexualidade, de certa forma, abriu caminho para uma perigosa permissividade no espaço dos debates.

Em entrevista a Maria da Paz Trefaut (Revista República n. 22), Jean-Claude Guillebaud, jornalista, ensaísta e pensador francês que participou dos movimentos de 68, disse que as conquistas na sexualidade foram apropriadas pela sociedade de consumo e desviadas pela lógica do mercado. E sobre a liberdade sexual, sentenciou: “Hoje, em termos sexuais, tudo é permitido e tudo é pago. Só há uma coisa proibida: a gratuidade. É uma derrota formidável. Nossas conquistas foram recuperadas, recicladas e instrumentalizadas pela sociedade do dinheiro. O sexo se tornou mercadoria."

Não é difícil enxergar as mudanças na sexualidade. Em espaços variados, a perfeição emoldura o espetáculo da vida de sucessos. Ficar bem na foto tornou-se uma exigência sem fronteiras no jogo da sedução narcísica. Da escola ao condomínio, da balada ao MSN, da sala de estar ao quarto, ninguém escapa dos apelos da forma bem-sucedida: nem crianças nem velhos. Todos somos público-alvo de um ordenamento compulsivo de vida em que tudo tem que funcionar sem falhas - nada pode faltar.

Hoje, os estilos de vida e o enredo dos encontros são marcados ou definidos, forçosamente, por padrões industriais e midiáticos de beleza e popularidade. Símbolos, modelos, agentes e cartilhas do ideal narcisista de felicidade entraram na tessitura do encontro amoroso e na vida de todos - homens e mulheres. Teria o prazer se moldado aos clichês do imaginário pré-fabricado pelo esteticamente correto ou pela última tendência repaginada da moda?

Ecos de 68 parecem nos dizer que entre corpos e mentes o enlace erótico nem tanto se faz ou pouco se faz com a matéria que nos pertence. O que é mesmo nosso nas nossas fantasias? O que nos traz o encanto do outro? O que nos encanta no encantamento do outro?

No momento em que o gosto pelo artifício sobrepuja o gosto pelo espontâneo, assumir o que nos pertence ou o que deveria nos pertencer na vida privada bombardeada de imagens e fetiches importados pode vir a ser um meio de sobrevivência do sujeito, do indivíduo, do corpo desejantes.

Quando a turma de rapazes e moças foi para as ruas nos anos 1960/1970 reivindicar liberdade sexual, a liberdade ficava em primeiro lugar. Se o amor roubasse a cena, tudo bem - eles queriam liberdade. Liberdade para criar e recriar a musicalidade própria do encontro amoroso. Liberdade que duas pessoas poderiam suportar. Liberdade.

*Texto em homenagem ao Grupo de Estudos coordenado pela psicanalista Inez Lemos, em Belo Horizonte.


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Viviane Campos Moreira.
Postado em videbloguinho
Publicado na revista Mucury n. 9


(OBS.: no texto, para abrir a letra da canção dos Stones, clique no link, sob Let's spend the night together, em negrito e itálico. Para abrir as páginas dos recortes do livro de Marilyn Yalom sobre as mudanças na sexualidade feminina, clique nos links, sob Nova mulher, Novos tempos, direito igual - em negrito e itálico.)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

MENSAGEM PARA BARTHES


Leninha Latalisa*
Foto: Miguel Aun.



Sr. Roland,


o prazer é um luxo:

alguns

poucos

amantes

raríssimos

metafísicos

arteiros

sabem

gozar

o

seu

riso

o prazer tem lá seus caprichos;

bom gosto

nem tanto


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Viviane Campos Moreira.
Postado em videbloguinho

*Queima em alta temperatura - forno a gás.
Catálogo cedido por Liege Mendes.

Mais: MORANGO COM CHANTILI SUSPIRO E RUM.

sábado, 2 de outubro de 2010

A dor que não se cala

Sublimação foi o tema abordado no trabalho apresentado por Ana Paula Paes de Paula em 24/9/2010 e por Eliana Rodrigues Pereira Mendes, em conferência em 25/9/2010, na XXVIII Jornada do Fórum de Psicanálise do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais sobre sexualidade e inconsciente.

Ana Paula Paes de Paula apresentou O caráter dual da sexualidade humana: da perversão à sublimação*, levantando uma questão interessante sobre a “despervertização na sublimação”. Baseando-se na teoria de Freud sobre os três desfechos da sexualidade - o recalcamento, a perversão e a sublimação - Ana Paula falou sobre a dualidade da sexualidade entre a perversão e a sublimação. Nesta "a pulsão sexual se subtrai ao recalcamento" e naquela "a pulsão sexual resiste ao recalcamento". Segundo Ana Paula, "quem sublima também transgride", mas de acordo com a Lei (simbólica). Bem diferente, portanto, da transgressão na perversão que implica a recusa da Lei do Pai (Lacan): lei simbólica que impõe a incompletude e garante o laço social. Na sublimação, o sujeito, por aceitar a incompletude, acede ao desejo, pois a incompletude "é potência que possibilita ao sujeito prosseguir na pulsão de saber e de criar". Assim, o sujeito desejante afirma sua sexualidade no prazer. Na perversão, no entanto, com a recusa da incompletude, o sujeito não se desloca do gozo para o prazer. Tal recusa confere ao perverso a ilusão de um "gozo a mais". Desse modo, ele não afirma sua sexualidade no prazer. "O perverso usa o outro como objeto de seu gozo, não o enxergando como sujeito", de acordo com Ana Paula.

Nos debates, o coordenador da mesa José Sebastião Menezes Fernandes fez uma reflexão, como se diz, da hora: “-Está faltando a falta. A dor está sendo tamponada de todas as formas. Qualquer manifestação sintomática hoje é transformada em transtorno. A ordem é: Não se angustie. Consuma!”

Eliana Rodrigues Pereira Mendes, na conferência Pulsão e Sublimação: a trajetória do conceito, possibilidades e limites, referindo-se à sublimação como “o destino mais nobre das pulsões”, mencionou a criação da artista mexicana Frida Kahlo. A obra de Frida é notadamente marcada pela dor. Frida deu cores e vida à própria dor. E dela fez arte, como podemos ver no filme Frida.

Sem entrar na discussão sobre o que é arte e o que não é - o que seria de nós se não pudéssemos simbolizar, criar artefatos da dor? O que seria do mundo, da cultura, se não tivéssemos como recriar na tela, no barro, pano, papel, palco, espaço o nosso mal-estar, as nossas fantasias?

Em Freud, pensador da cultura (2006, p.557-558), Renato Mezan, ao tratar da sublimação, toma como exemplo os intelectuais (artistas, cientistas) que possuem “capacidade de sublimação pulsional elevada, cuja produtividade (obras plásticas ou literárias, descobertas e invenções etc.) surge de uma economia psíquica específica.” “A arte e a ciência dependem da capacidade de sublimação do sujeito, isto é, da reorientação de parcelas ponderáveis de sua libido para finalidades muito distantes da satisfação direta e que não obstante proporcionem prazer.” Por isso, eles são “o mais firme substrato da cultura” porque conseguem deslocar a agressividade em um fazer que lhes dá prazer, embora esse meio de obter prazer, segundo Freud, não seja acessível a todos.

Estaria a sublimação em risco com tantas ofertas e “ferramentas” disponíveis hoje para “tamponar a dor”? A violência exarcebada nas cidades, a frequência cada vez maior de práticas perversas dentro e fora do espaço doméstico, o incremento de condutas criminosas em que a vítima, o outro (mulher, criança) é tão-somente um objeto de gozo apontam para uma sociedade afastada da sublimação?

A falta faz sim muita falta hoje. E quem perde com isso é o próprio ser humano por não se constituir incompleto, faltoso, desejante. Sem a falta, não há a poética do saber fazer. O savoir faire fica restrito a poucos. Todos perdemos no final das contas - em beleza e transcendência.


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Viviane Campos Moreira.
Postado em Balaio da Vivi

*O artigo O caráter dual da sexualidade humana: da perversão à sublimação foi publicado em Cadernos do Fórum de Psicanálise do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, nº 38 – setembro/2010.
E-mail: cpmg@cpmg.org.br

(OBS.: no texto, para acessar o trailer do filme Frida, clique no link, sob a palavra Frida em negrito e itálico.)

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Mais: A mágica do amor na conferência de Malvine;
Lei Seca e a Lei do Pai

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Filosofia na Casa Fiat



Abaixo, trecho do release sobre o seminário, disponível no site da Casa Fiat*.

"O seminário traz à tona a questão do autoconhecimento, que ocupa séculos de história do pensamento e que, na atualidade, tornou-se uma mercadoria fácil do mercado do saber, mas sem perder importância filosófica. Hoje, se trata de devolver a questão à sua origem antes que o autoconhecimento transforme-se em autoengano. Mas é possível responder a pergunta pelo autoconhecimento? Não somos antes o fruto do desconhecimento que deseja saber? Quais as ressonâncias, quais as implicações na ação, na política, na ética, na vida estética, no cotidiano, em relação ao que podemos saber de nós mesmos? Essas e outras perguntas estarão em debate.

A abertura, no dia 4 de outubro, será conduzida pelo diretor do Sempre um Papo, Afonso Borges, quando Márcia Tiburi falará sobre o tema Saber de si – Saber de Ninguém."

*Mais: Sempre um papo 2010

Inscrições: info@sempreumpapo.com.br

Informações: (31) 3289 8900