domingo, 30 de dezembro de 2018

Boas Festas

 Museumplein - Amsterdã (agosto/2018)
"Self-portrait of a dreamer"
Joseph Klibansky


A todos nós, saúde e disposição 
os melhores afetos e um pouco
mais daquelas alegrias
bem guardadinhas 
em algum lugar
  
*

Neste ano, agradeço especialmente aos artistas pela partilha de beleza, sensibilidade, inteligência, conhecimento, estudo, pesquisa, trabalho, criatividade, generosidade, sabedoria, alegria, amor e pelos gestos incansáveis de afirmação do corpo, do desejo, da escuta, do encontro e pela aposta que se renova, entre nós, no humano.


sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Noite de Natal

Correggio - "Natividade" (1528)



A todos, uma noite de Natal 
gostosa com as estrelinhas 
dos melhores afetos 
dentroefora

*
Um Natal feliz!
São os meus votos e os do Balaio da Vivi e do videbloguinho.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Existe o lilás



Difícil listar as belezuras da manifestação #Elenão #Elenunca #Nothim realizada em várias cidades do Brasil e do mundo. Em Belo Horizonte, a concentração começou às 12h na Praça Sete e de lá marchamos para a Praça da Estação.

Sim, a beleza estava presente. Nos corpos. Nos rostos. Nas bocas. Nos gritos. Nos pés. Nas pernas. Nos punhos. Nos braços. Nas mãos. Nos tambores. E a felicidade também estava lá: e-n-t-r-e. A alegria de viver dentrofora dos corpos. Muitas famílias. Pais e filhos e avós e netos. Famílias de amigas. Famílias de amigos. Famílias de sangue. Famílias de afeto. Famílias, todas juntas. Se esta realidade foi ignorada pela equipe de algum político - foi sim um erro grosseiro. Imperdoável um político negar o que existe - que política é essa afinal? Esta realidade não passou a existir agora. Existe já há um tempo. Há bastante tempo está instalada na nossa sociedade. Uma das conclusões (entre tantas): a realidade, por vezes, costuma ser muito mais feliz do que todos e mais todos os devaneios e delírios de felicidade. 

E no meu universo, uma das falas mais lindas que escutei foi a da minha sobrinha: "aconteça o que acontecer um dia vou poder dizer aos meus filhos - sim, eu estava lá."

Além de nós - milhares de mulheres e de homens e de crianças e de idosos de carne e ossos - ela, a Heleninha, também esteve lá: aqui

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Corpos à espera


Tuca Andrada e Denise Fraga

Uma cidade anima-se quando o trem passa. Güllen e seus cidadãos endividados aguardam a visita de uma velha senhora. Claire Zahanassian (Denise Fraga) nasceu e cresceu em Güllen e, muito moça, teve que deixar a cidade. Precisou prostituir-se. E para deixar a vida, casou-se com um milionário, depois com outro e depois com o terceiro, o quarto, o quinto... Colecionou nomes de donos de fortunas ao longo da vida.

Clara, como os cidadãos de Güllen a chamavam, retorna disposta a salvar a cidade que já lhe pertencia - era dona de quase tudo em Güllen. No entanto, queria mais: justiça. Para ajudar a cidade, exigiu que matassem um de seus cidadãos: Alfred Krank (Tuca Andrada), o homem que a abandonou grávida. Assim, Clara faz valer o seu dinheiro.

Os cidadãos recusam sua proposta, mas a milionária espera. Instala-se em Güllen por um tempo, com todas as suas excentricidades que modificam a paisagem e a vida da cidade. E avisa: "Sou difícil de morrer, sobrevivi a vários acidentes". Talvez a um, Clara não tenha sobrevivido: à história de amor com Alfred.

Quando se reencontram, Clara relembra o que viveram em vários cantos da cidade com a riqueza das cores do seu romance. Ela sabe que suas cores nada podem fazer por Alfred, um homem empalidecido pela vida sem sentido. Quando Clara entrega uma cor a Alfred, ele não está ali, talvez nunca tenha estado. As cores todas são dela. Contudo, por que a fome de justiça?

Há camadas de Clara nesse corpo amado. Há a visita do ser que passou pelo seu corpo de mulher nessa história de amor. A possibilidade de ser perdida para sempre, quando moça, foi cultuada por Clara. O corpo desse homem não estava nas prateleiras da sua coleção. Seria possível a Alfred, ampliar as fronteiras do próprio corpo? 

Quanto aos cidadãos de Güllen, seriam capazes de inventar outros corpos?

Um dos cidadãos, revoltado com a condição imposta por Clara, a compara com Medeia, mas a velha senhora não queria vingança, queria justiça, a sua, e podia pagar por ela. Todavia, sua justiça não questiona o destino. "O mundo fez de mim uma puta, agora faço do mundo um puteiro."

O que o dinheiro não compra? Esta é uma pergunta que Claire Zahanassian parece fazer a cada um dos cidadãos de Güllen, sabendo há muito tempo a resposta. Talvez a velha senhora também nos pergunte em nossas Güllens que se animam quando o trem passa, mas nunca sabem quando o trem para. Ou sabem?



*

Texto de Friedrich Dürrenmatt.
Tradução: Christine Röhrig.
Adaptação: Christine Röhrig, Denise Fraga e Maristela Chelala.
Direção: Luiz Villaça.
Com Denise Fraga, Tuca Andrada, Fábio Herford, Romis Ferreira, Eduardo Estrela, Maristela Chelala, Renato Caldas, Beto Matos, David Taiyu, Luiz Ramalho, Fernando Neves, Fábio Nassar e Rafael Faustino.
Stage rights by Diogenes Verlag AG Zürich.
No Sesiminas, em Belo Horizonte, de 26/4/18 a 29/4/18.

(*Falas citadas não literais)

domingo, 25 de março de 2018

Medeia e o indomável

Debora Lamm


Medeia chega até nós, espectadores, e diz que precisa ser escutada.  

Uma estrangeira com febre que não nos poupa das suas próprias contradições. Também não nos convoca a nos posicionarmos a favor de seus argumentos ou contra eles. 

O mito está entre nós e fala da condição feminina hoje. Através do tempo, Medeia conversa com a mulher, para além da maternidade. Medeia aponta para a potência do indomável. O indomável capaz de mudar a história. É mesmo o destino o que damos o nome de destino? 

Caberia às filhas de Medeia se indagarem a respeito do "pai". Quem é o "teu pai"? Aquele que faz as leis e a justiça para todos? Numa sociedade marcada profundamente pela ausência do pai real, esperar pelo "pai", esse que vai trazer a justiça, a igualdade e direitos seria mesmo o destino de suas filhas? 

O mito conversa com cada uma de nós, mulheres do século XXI. O mito febril no teatro, um dos melhores lugares para se estar com ele e com a sua voz.

De acordo com a autora Grace Passô, o estupro, o aborto e a naturalização da ausência do pai seriam hoje três tragédias na construção social das mulheres.


*

Mata teu pai, espetáculo da Cia OmondÉ.
Com Debora Lamm.
Texto de Grace Passô.
Direção de Inez Viana.
No Sesiminas, em Belo Horizonte, dias 24 e 25 de março.

quinta-feira, 8 de março de 2018

Dia das mulheres

Paul Klee
A ilha submersa

Por um dia das mulheres consciente das estatísticas sobre mulheres. 
Para as brasileiras, ainda há muitos direitos a serem conquistados. O primeiro deles que permanece fora do nosso próprio discurso, sobretudo quando o terceirizamos: o direito à liberdade sobre o próprio corpo. 
Sem este direito, por mais que avancemos, permanecemos presas numa sociedade muito atrasada por cujo atraso respondem, com a própria vida, algumas mulheres especificamente. Assim, a desigualdade não recua entre nós e a crueldade não tem fim.
Por um dia das mulheres consciente das estatísticas sobre mulheres. De repente, esse dia pode ser hoje - por que não?
Mais um 8 de março...



Uma convidada minha para este 8 de março também. Não apenas minha, mas de muitas mulheres. Ela que escreveu A convidada, seu romance de estreia, e foi a convidada da personagem Violette Leduc no filme Violette. 

Um pouco dessa história que fala do encontro entre as escritoras Simone de Beauvoir e Violette Leduc, aqui.