domingo, 19 de junho de 2016

Por que o foratemer é tão simpático?

Fonte da imagem: Google


Podemos listar mil e uma razões para dizer foratemer em casa, na rua, na TV, nas rádios, no cinema, no teatro, em shows e nas redes sociais. Podemos até não listar razão alguma. Podemos simplesmente dizer foratemer porque queremos. Sem tantas explicações, foratemer. Ou podemos dizer foratemer no lugar de bom dia. Talvez o foratemer já tenha se tornado o melhor bom-dia do momento. Podemos também dizer foratemer por falta de razão para não dizer foratemer. Por que não dizer foratemer? Não há razão para não dizer, então dizemos: foratemer. E quando nos despedimos dos amigos, também dizemos:

- Até mais. Beijinhos e foratemer.

Primeiramente, segundamente e nas despedidas, foratemer. Entre um brinde e outro, foratemer! Em muitas ocasiões, tem sido assim. Estamos na moda do foratemer.  Ou o foratemer seria mais uma mania? Ou só um tique nervoso?

foratemer no café da manhã, no almoço, no jantar e nas mesas de bar. Assim tem sido. Inelutável. E embora esta palavra tenha luta dentro dela não significa que a luta não possa ser em vão, ainda que inevitável. De todo modo, foratemer já está na língua – não há como evitar essas duas palavras em uma. 

Fora! equivale-se a uma ordem: dê o fora. Saia. Caia fora. Vaza: um verbo que não deixa dúvida alguma a partir do gesto de quem manda vazar. Fora (vaza), todo mundo entende. Fora é, portanto, verbo sub-rogado.

Temer, outro verbo: eu temo, tu temes, ele teme e nós... tememos. Todos tememos, inclusive, o verbo no infinitivo. Por estarmos cansados dele – pode ser. Por muito tempo, temos temido. Tememos e tememos o amanhã, o agora, e o ontem não o conhecemos bem porque não conseguimos ainda compreendê-lo para além das imagens que fazemos dele ou que permitimos que façam. Tem sido assim. Há tempos.

Mas quando dizemos, com tanto humor, foratemer, talvez queiramos espantar o medo pela fala. Estamos cansados de temer: caia fora, medo. Assim, podemos trazer para fora o medo. Talvez não queiramos mais o medo nos nossos corpos políticos – vai saber?

Não somos revolucionários e sabemos disso. O corpo político do rei foi destronado na Revolução de 1789 pelos franceses que continuam levando seus corpos políticos para a rua. Os revolucionários franceses escreveram capítulos inéditos na história. Nós nos acostumamos com as mudanças que recebemos. 

Tem sido assim. E não foi diferente agora. foratemer, ainda que seja uma rebelião mais do amor que do ódio, ou mesmo que seja uma explosão de amorhumor, pode não representar nada, em termos de mudança. Talvez fique como uma frase para espantar o medo dos nossos velhos corpos políticos não revolucionários. Isola – três vezes na madeira!

De onde virá a transformação na política, ainda não sabemos. Enquanto isso, fora verbo temer. Afinal, pode-se dizer foratemer por motivos que nem mereçam explicação.

- Ah, eu digo foratemer porque sim. Claro que há motivo. É isso: foratemer.

Entendemos.

______________________________________________
Viviane C. Moreira

Publicado em balaiodavivi.blogspot