quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Fórum das Letras 2011

De 11 a 15 de novembro será realizado o Fórum das Letras de Ouro Preto. "Memória do esquecimento" é o tema central desta 7ª edição que abordará a memória artística e literária de Ouro Preto. "As passagens de Elizabeth Bishop e do Living Theatre pela região terão destaque especial, bem como alguns dos maiores projetos literários fundados em Minas Gerais. Uma das presenças mais importantes em 2011 será a da atriz e escritora Judith Malina, que, há exatos 40 anos, foi expulsa do Brasil sob acusação de, juntamente com os demais integrantes do Living Theatre, difamar a imagem nacional em outros países, em um dos episódios mais controversos que a ditadura produziu no campo cultural.

A promoção da literatura brasileira e o estreitamento das relações entre países lusófonos seguem como uma das principais bandeiras do evento. Em 2011, este objetivo será reforçado pela participação da romancista Lídia Jorge e do poeta Álamo Oliveira, de Portugal (com o apoio do GT Artes e Humanidades, em conjunto com o Instituto Camões). A presença de agentes literários como Nicole Witt, da Alemanha; e Jonah Straus, dos Estados Unidos; do pesquisador e tradutor alemão Berthold Zilly e do presidente da Biblioteca Nacional do Uruguai, Carlos Liscano, será fundamental para discutir também as possibilidades de integração de esforços entre a literatura latino-americana e brasileira.

Como tradicionalmente acontece, a língua francesa terá lugar especial, com a presença do francês Henri Loevenbruck, considerado um dos mestres do thriller na França e músico conhecido em toda a Europa, e do togolês Kagni Alem, com sua respeitada obra a respeito das manifestações originadas da relação Brasil/África durante o período da escravidão. Para Guiomar de Grammont, idealizadora do evento, 'esta aproximação é fundamental para Minas Gerais e Ouro Preto, pois a cultura francesa é orgânica na formação da cultura brasileira'.

Entre os brasileiros confirmados para o encontro, ganham ênfase Adriana Lunardi, Ana Maria Gonçalves, Arnaldo Bloch, Marcelo Tas, Eduardo Jardim, Marcia Tiburi, Miguel Sanches Neto, Ronaldo Correia de Brito, Rubem Alves e Max Mallman. Destaque também para Adriano Macedo, Branca Maria de Paula, Jeter Neves, Malluh Praxedes e Sérgio Fantini, integrantes do Coletivo 21, grupo de escritores mineiros criado em 2011 com o objetivo de estimular a troca de ideias e buscar novas formas de aproximação entre os autores, leitores e possibilidades do mercado literário.

Em 2011, o Fórum das Letras será resultado de um processo colaborativo entre professores dos cursos de Filosofia, Letras, Artes Cênicas, Jornalismo e Música da UFOP, com curadoria geral da professora Guiomar de Grammont. Para a idealizadora do evento, 'o Fórum se consolida como momento de amostra do que de melhor tem sido feito no mundo literário e assume, cada vez mais, sua missão de defesa e promoção da literatura brasileira em nosso país e no exterior. A história e a memória de Ouro Preto e Minas Gerais são centrais nesta edição, pois a importância do Fórum das Letras encontra-se, sobretudo, no fato de se situar na antiga Vila Rica, cidade na qual tiveram origem alguns dos mais importantes movimentos literários do Brasil'.

Homenagem aos 25 anos do Sempre um Papo

Os 25 anos do Projeto Sempre Um Papo serão homenageados pelo Fórum das Letras de Ouro Preto. Criado em Belo Horizonte pelo jornalista Afonso Borges, o Sempre Um Papo abrange, atuamente, 23 cidades e tem como objetivo incentivar o hábito da leitura por meio de encontros entres grandes nomes da literatura nacional e internacional.

Durante o Fórum não será diferente: no primeiro dia do evento, 11 de novembro, Borges receberá o escritor Rubem Alves para uma conversa junto ao público, com o tema Palavras para desatar nós, no Cine Vila Rica, às 16h." (Fonte: texto de divulgação do Fórum das Letras de 2011).

Mais informações: aqui.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Uma conversa sobre o desejo

Dois sertanejos caminhando, cada um com sua matula rasa, que mal dá para um dia inteiro no roçado, o filho pergunta ao pai:

- Que qui é desejo?

O pai responde:

- Êta palaivra bunita, fio, qui ardi dentru da genti, qui nem fagúia das fuguêra de São João. Às veiz, um quenturão bão, traz veiz né bão não. Mais ardi, ardi, ardi…

- Iguar pimenta di revirá os zói?

- Ô fio, a gente é qui tem qui sabê cumé qui vai ardê…

- Êta, mar cumé qui nóis fica sabeno?

- Cum o vivê.

- Hmmm.

Gente do sertão. Da lida com a terra. Gente que conhece bem as sovinices da vida. Gente reverenciada por Guimarães Rosa, e que cedo aprende que “viver é perigoso”. Gente com olhar pra dentro, por vezes esquecido pelas gentes da cidade. Este diálogo poderia ser a primeira conversa entre pais e filhos. Entre namorados. Entre irmãos. Entre sócios. Um pacto a se renovar entre marido e mulher.

Seguindo a linguagem do pai sertanejo, poderíamos chamar o desejo de calor da vida. “Fogo” que nos movimenta em busca de um saber, de um fazer, do amor… Fazemos escolhas, mesmo quando não queremos, e mesmo sem sabermos por quê. Prosseguimos pelo caminho certo, bem-sucedido e, mais tarde, descobrimos que não estamos felizes, apesar de estarmos “bem”. Até quando pensamos que viver não custa tanto, a vida nos dá uma rasteira e, na marra, temos que nos reinventar. E qualquer postura que adotamos na dinâmica da vida, em seus altos e baixos, não nos livramos da teimosia do desejo, nem da sua sombra, quando ele, o desejo, nos falta – e sabe-se lá como a falta de desejo cobra de nós sua fatura…

Poderíamos aceitar mais o desejo como algo próprio da condição humana — estruturante — e talvez assim pudéssemos suavizar a angústia do existir. Poderíamos caminhar com mais leveza… Quem sabe, poderíamos até nos interessar mais pelo o que nos torna, desde o nascimento, “iguais”? Todavia, aceitaríamos com mais serenidade que o desejo de um nem sempre corresponde ao desejo do outro?

São tantos autoenganos pelo caminho… Tantos conflitos que surgem a partir do que nos escapa, ou do que foge do nosso controle. Sem falar dos conflitos que vêm da diferença…

Se nos rendêssemos à nossa condição de seres desejantes e “simplesmente” nos constituíssemos como tal, ainda assim precisaríamos inventar tanta moda pra suportar a diferença? Tantos rótulos, categorias e padrões? Quem sabe, poderíamos exorcizar nossos fantasmas em relação ao desejo? Nele ordenados e estruturados pra viver em liberdade, poderíamos nos tornar mulheres e homens capazes de aceitar o desejo – o nosso e o do outro – sem tanta doideira travestida de normalidade. De bem com a vida, pra valer, festejaríamos o desejo com alegria. E também, a diversidade. Talvez assim, homens e mulheres, mais resolvidos com seus próprios seres desejantes, pudessem dar alguma consistência à liberdade. E à alteridade.

Mas parece que nos distanciamos da liberdade. E com a violência cada vez mais grave e banal, parece que formamos uma sociedade pouco afeita com a diferença. Uma sociedade ameaçada pelo desejo? Hostil com a diferença e, cada dia, mais violenta.

Onde nos perdemos na liberdade? Sobretudo na liberdade como início de promessas? Liberdade como “autocomeço” – “porque existe um começo que o homem pode começar; e, começando por nascer, ele se destina a nascimentos renováveis que são também atos de liberdade” (Kant citado por Julia Kristeva em O gênio feminino: A vida, a loucura, as palavras – Hannah Arendt). Liberdade para (re)começar, para (re)nascer. Liberdade preservada pelo nascimento – este como possibilidade de começo para a promessa de “singularidade de cada existência”, como argumenta Hannah Arendt em A condição humana. Nascimento. Começo. Liberdade. Renascimento. Recomeço. Liberdade.

Como diz a personagem Godofredo (Rodolfo Vaz) do conto “Os três nomes de Godofredo”, de Murilo Rubião (adaptado por Silvia Gomez para o teatro – na peça O amor e outros estranhos rumores): “Todo mundo tem direito de mudar de lugar”. Que lugar? O lugar da falta de desejo. Mas é preciso abandonar o conforto do tédio, do ressentimento, da rotina massacrante, da vida em que falta sentido.

Desejo. Igualdade. Liberdade. Em algum ponto dessa história, nos desviamos. E nos tornamos fraternos – no medo?


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Viviane Campos Moreira.
Crônica publicada  no Amálgama.
Também publicada no Mucury Cultural.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A sexualidade brasileira, por Mary del Priore

"O Sempre Um Papo e a Casa Fiat de Cultura recebem a historiadora e escritora Mary Del Priore no seminário Sexualidade e Erotismo na História do Brasil, nos dias 25 e 26 de outubro, terça e quarta-feira, de 19h30 às 22h. A entrada é franca, e as reservas podem ser feitas pelo email inscricao@sempreumpapo.com.br. Na oportunidade, o livro Histórias Íntimas será lançado e, aos participantes, será vendido a preço promocional.

Conteúdo:

Neste seminário, a historiadora vai mostrar como a sexualidade e a noção de intimidade foram mudando ao longo do tempo, influenciadas por questões políticas, econômicas e culturais, e passaram de um assunto a ser evitado a todo custo para um dos mais comentados nos dias de hoje. Mary del Priore fala de nudez e pudor, hábitos de higiene, afrodisíacos, crendices, homossexualidade, prostituição, o surgimento da lingerie, a popularização do biquíni, remédios caseiros para aborto, bailes de Carnaval e a revolução sexual. A partir de uma vasta pesquisa histórica sobre estes e outros temas, Mary del Priore traça a trajetória do sexo no Brasil.

Do bordel ao motel, da fotografia à tela do computador, da "pederose" à pedofilia, da perseguição ao antifísico à homofobia, do corpo coberto ao nu: como passamos de um mundo em que quase tudo era proibido, mesmo entre quatro paredes, e chegamos a este em que não se proíbe quase nada, até em público. Quando o Brasil era a Terra de Santa Cruz, as mulheres tinham que se enfear e os homens precisavam dormir de lado, nunca de costas, porque "a concentração de calor na região lombar" excitava os órgãos sexuais, afirma a historiadora." (Fonte: site do Sempre um Papo)

Mais informações: aqui.

Local: Casa Fiat de Cultura – Rua Jornalista Djalma de Andrade, 1250 - Belvedere/BH Informações: (31) 3289-8900