sexta-feira, 31 de maio de 2013

IN


des-arrume-se
des-arranje-se
des-amarre-se
des-arme-se
des-ame-se
des-mame-se
 
des-acomode-se
des-arquive-se
des-apiede-se
des-aquiete-se
des-arquitete-se
des-grude-se

o mundo não cabe no google

_____________________
Viviane C. Moreira
Recorte do poema Canal 17
Publicado na íntegra: aqui
 
*Peça de Acácia Azevedo - Blog

Mais: OFF

terça-feira, 28 de maio de 2013

OFF


des-informe-se
des-importe-se
des-intoxique-se
des-insert-se
des-plug-se
des-link-se
pa u se
delete
releve
relaxe

não é nada disso
só a mesma cena recortada 
ah vida mais 
vidinha
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Viviane C.  Moreira
Recorte do poema Canal 17
Publicado na íntegra: aqui
*Peça de Acácia Azevedo - Blog

Mais: OUT                   

segunda-feira, 27 de maio de 2013

OUT

 
 
 
des-ordene-se
des-odeie-se
des-otimize-se
des-funcionalize-se
des-customize-se
des-cole-se
colora-se
 
des-organize-se
des-oriente-se
des-olvide-se
des-obrigue-se
des-formate-se
des-click-se
estranhe-se
 
e sebo nas canelas
 
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Viviane C. Moreira
Recorte do poema Canal 17
 
*Peça de Acácia Azevedo - Blog

 
Mais: NOITE CLARA
 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

NOITE CLARA


no alto da rocha da boa fortuna
pintei meu nome com letras graúdas de prata azul
e ao carrossel faiscante de nuvens vermelhas
entreguei seu medo com ternura

pra longe o vento mandou sem mesura
meu desejo negado, sua mentira cansada
- nosso amor extraviado -
do alto da rocha da boa ventura

beijei sua boca seca e meu beijo incendiou seu fôlego
em sua língua desterrei seu gozo e fiz arder seu fogo
e o vento morno numa noite fria me trouxe você
bem no alto da rocha da boa sorte

duas estrelinhas azuis cintilam em segredo:
meu nome escrito
seu medo varrido
do mais alto da rocha do bem-querer

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Viviane C. Moreira em AMOR EM PEDAÇOS & VERSOS
*Peça de Acácia Azevedo - Blog

Mais: ARTEFATOS (CARROLLIANOS) DE UMA JOVEM SENHORA

domingo, 19 de maio de 2013

Amigos, amigos - arte à parte

 
Um quadro e três amigos de longa data. Um amigo mostra ao outro um quadro branco, uma tela toda em branco, que comprou por R$ 200.000,00. O amigo vê a tela e se angustia. Pinta o mal-estar entre eles. 
 
Este amigo que não suporta olhar para o quadro em branco e suporta menos ainda o amigo ter adquirido esta obra de "arte" vai até o terceiro amigo contar a novidade do investimento absurdo do amigo numa obra que nada tem de arte e que não vale nada.

O que teria acontecido com o velho amigo deles que parecia não ter perdido o senso crítico? Nem parecia ter perdido a razão? Qual seria seu propósito com a compra do quadro? E por que esse quadro? 
 
O que teria deixado o amigo tão incomodado naquele quadro?

O terceiro amigo que tenta ficar neutro na história, na briguinha aparentemente sem pé nem cabeça dos dois amigos queridos, acaba entrando no acerto de contas deles para evitar o pior: o fim da amizade de longos anos. Embora ele pergunte: "por que ainda nos vemos se nos odiamos?"

Os dois amigos se calam. Ficam constrangidos. Ou aliviados? Seria então o momento de pôr um ponto final na relação? O amigo, o terceiro, pede aos dois uma trégua, dizendo-lhes que não suportaria a ausência deles no dia do seu casamento porque a presença deles, de seus amigos queridos, seria a sua felicidade.
 
A peça "Arte", de Yasmina Reza, autora de "Deus da Carnificina", aborda um momento de tensão entre velhos amigos. Mostra de que matéria se fazem as amizades. Em algum momento, ainda que digamos eu te amo, porque amamos mesmo, de verdade, o eu te amo parece não ser suficiente.
 
O gostar de gostar de você é um desafio numa amizade, pois posso te amar - e te amo - mas posso não gostar mais de gostar de você. Ainda que eu te ame, não gosto mais de gostar de você, porque se tornou sofrível gostar de você, embora eu te ame. É o momento do desprazer numa amizade.
 
Mas o que o amigo fez? Nada. O "nada" do outro, o "nada" que o outro fez, o "nada" da vida do outro, o "nada" que o outro se tornou, “o nada” que nega o que representa “o tudo” traz desconforto. O nada do outro que nega o meu tudo me incomoda. E também incomoda o outro o meu tudo. O nada do outro e o meu tudo são o nosso confronto. É o momento numa amizade em que “o nada” e “o tudo” se chocam. Não se completam. Não se somam.

O quadro do amigo que não tem “nada” de arte desencadeia no outro um mal-estar que traz à tona o ressentimento guardado há anos. Um ressentimento comum. O ressentimento que ambos fingiram não existir. E existindo foi deixando suas marcas em cada um. Veio à tona com um simples quadro em branco que não lhes dizia "nada". O que o amigo dele lhe fez? Nada, só comprou um quadro. Em branco.
 
Ressentimos com "o nada". Ressentimos até com o sucesso vazio de um amigo. Ressentimos quando um amigo fica fora do enquadramento que lhe damos. Fingimos naturalidade quando nos deparamos com uma conduta de um querido amigo que não se ajusta ao que esperamos dele.
 
Insatisfeitos, silenciamos o que supostamente não se pode dizer ao outro porque o que não se pode dizer desvela nosso ressentimento. O não-dito que se for dito poderá ferir um amigo ou poderá pôr fim à amizade é guardado. Mas cedo ou tarde, o não-dito é dito. Bem ou mal é dito.
 
E o que se pode dizer? E como dizer o que não se pode dizer?

Yasmina Reza trata dessa tensão, a partir de um quadro que suscita algo (um mal-estar) no outro, para além do racional, num texto em que o que se diz, e como se diz, parece comédia, mas não é. Ou será que é?
 
***

 
"Arte", de Yasmina Reza, com Vladimir Brichta, Marcelo Flores e Cláudio Gabriel.
Direção de Emílio de Mello. 



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Asas pra que as quero

Maitê & Clarisse
  
 
Duas senhorinhas. Uma tristonha. Uma alegre. A tristonha olhava para o passado. A alegre desviava-se desse olhar. Duas mulheres comuns. Duas senhoras com história.
 
Conheceram-se num asilo. Nos domingos, ambas não recebiam visitas. A alegre não recebia porque ficou sem o marido, sem os filhos - enterrou todos. A tristonha tinha filhos e netos, mas eles não a visitavam. A alegre percebeu que as duas não recebiam visitas nunca e se aproximou da tristonha. Assim, começaram a ficar amigas e não ficaram mais sós nos dias de visita. Nem nos outros dias.
 
O que as tornaram amigas? A solidão? A carência? A saudade? As tristezas? As alegrias? A vontade de viver num outro lugar? A aceitação de viver a vida que elas tinham pra viver naquele lugar? A velhice?

O que faz com que formemos laços com alguém que não faz parte do nosso passado? Uma pessoa estranha ao que fomos. Com quem não vivemos nenhuma história. Uma pessoa que conhecemos no presente. Hoje. Quando os nossos, com quem vivemos muitas histórias, se foram porque quiseram ir, porque foram levados pela morte, porque a vida seguiu por caminhos diferentes ou porque o afeto que era bom deixou de sê-lo e deixamos de nos gostar.

A velhice seria a afinidade entre elas? Uma afinidade temporal? Havia algo mais... Uma cumplicidade que só se dá pelo afeto. Uma capacidade de ir além do que um dia elas foram. Uma força comum pra viver o agora. O dia de hoje. E mais um dia.

Uma com a outra, enfrentando os dias de espera, mas se divertindo também. Inventando moda. A moda possível. Como bem nos adverte a tristonha: "a velhice não é pra covardes".


***

*Peça À beira do abismo me cresceram asas, com Maitê Proença e Clarisse Derzié Luz. De Maitê Proença, direção de Clarice Niskier e Maitê Proença.



segunda-feira, 13 de maio de 2013

Emily Dickinson no teatro

Analu Prestes
 
 
A personagem, na bela interpretação de Analu Prestes, convida-nos a conhecer sua história na peça Emily. Ela se apresenta como uma pessoa diferente e revela como a poesia se tornou a sua vida.
 
Por que a história de Emily nos fascina? Que encanto a personagem desperta em nós? O que nos separa dela? Que mundo é esse de Emily? O que há de mágico em seu jardim? Na sua fala? Em seus silêncios? No seu assombro de menina, de mulher?
 
E-m-i-l-y  D-i-c-k-i-n-s-o-n. Filha. Irmã. Menina. Poeta. Uma mulher que não saiu de casa, que não conheceu o mundo de fora. Uma mulher cuja vida foi vivida dentro. De casa. Do quintal. Da família. Do ser. Entre o ser. Dentro do ser que se abre ao infinito e não despreza a morte.
 
No infinito a sabedoria se expande. A vida vai além de todos os muros. Como os poetas que ousam voar. Como os passarinhos que nascem pra voar. Como os começos. Como "o azul, de todos os começos", frase de Hilda Hilst, citada por Analu Prestes, entre as borboletas azuis que enfeitam a entrada do teatro, anunciando a beleza de um mundo de delicadeza que está por vir.
 
 
***
 
Teatro Poeirinha - Rio de Janeiro.
Texto de William Luce, adaptado por Eduardo Wotzik.
Direção: Eduardo Wotzik.

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quinta-feira, 2 de maio de 2013

recesso

Edward Hopper

"Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí" curtir o outono e seus azuis...

quarta-feira, 1 de maio de 2013

1º de maio

Acácia Azevedo
 

Um dia pra pensar no sentido da palavra trabalho? O que significa trabalho hoje? Como nos relacionamos com o trabalho? Que lugar o trabalho ocupa nas nossas vidas? Que espaço damos ao desejo no trabalho? Conseguimos nos ordenar no trabalho a partir do nosso desejo? Será que conseguimos inscrever o prazer no trabalho?

Em homenagem a este dia, a canção "Vai à luta".
Cazuza avisou:  aqui

Peça de Acácia Azevedo: Blog