quarta-feira, 19 de junho de 2013
Corpos na rua
Que imagem estranha esta do país do futebol "etc. e tal" - até pra gente mesma!
"Onde isso vai parar?" expressa o estranhamento nosso diante do inesperado, mas também, penso, um desejo de compreensão: compreender a explosão do que não era esperado nem imaginado e que talvez tenha revelado o novo, num mundo que vive de novidades velhas.
"Onde isso vai parar?" talvez expresse o desejo de um novo começo - quem sabe?
Mas até que ponto o inesperado não era esperado? (Se é que isso interessa neste momento... E a quem interessa? )
Pois os "vândalos" e os "baderneiros" tomaram conta das ruas das principais grandes cidades do País num movimento aberto. Sem bandeiras. Sem lideranças. Sem território marcado. Levaram para as ruas a insatisfação, o direito de protestar e a beleza de quem sabe usar o próprio corpo para simbolizar.
A rua é de todos. Para todos. Este pode ser o principal recado dos "vândalos" e "baderneiros" que lutam sobretudo pelo direito de ir e vir, pela sua própria mobilidade nas grandes cidades.
Confusos, todos estamos. Mas há de chegar a hora da compreensão.
_______________________________
Viviane Campos Moreira
Também postado no videbloguinho
quarta-feira, 12 de junho de 2013
Rubem Braga x Marc Chagall
Marc Chagall
Abaixo, um recorte de uma "discussão" entre Braga e Chagall em torno da cor azul.
***
“- Não, estou cansado. Não quero pintar mais hoje.
E me diz que pintar é um ofício penoso.
- Não se pode fazer as coisas demasiado depressa: não se pode mesmo fazer depressa. Cada vez que começo um quadro, sinto que estou recomeçando um caminho difícil, eu diria mesmo desconhecido e perigoso.
Compreendo o que ele quer dizer, mas arranjo um jeito de observar que, entre os grandes pintores, ele é, certamente, um dos mais constantes; conta sempre a mesma história, não tem essa porção de ‘fases’ que outros atravessam.
- Não, eu não conto histórias. Você acha que conto sempre a mesma história? Que história?
- Posso ter usado uma expressão errada. Eu quero dizer que o senhor nunca se põe a fazer cubos, naturezas-mortas, paisagens, nem mulheres nuas de costas, nem qualquer outro motivo além desses que vêm naturalmente de sua infância ou da imaginação de sua família.
E cito seu arsenal de imagens: as casinhas tristes de aldeia, um poeta ou um burro tocando violino, um casal de noivos que esvoaça sobre o telhado, um velho judeu barbudo…
Diz que faz mais do que isso, mas – ainda que fizesse só isso? Leva-me a ver seus quadros, para diante de um e de outro, explica coisas. Tenho a ideia de chamar a atenção para a cara de um homem, toda azul, no meio de uma composição. Como há pouco falamos de Matisse e de suas cores, digo:
- É possível que Matisse pusesse ali um azul mais claro, mas é quase certo que poria mesmo um azul. Não acha isso?
Ele concorda. Para valorizar as outras cores em volta ou pelo menos não fazê-las perder seu valor, aquele pedaço de quadro fica bem sendo azul. Mas pergunta se não tenho outra explicação para a cara azul.
- Sim, essa cara azul sugere a ideia de que se trata de um homem que já morreu, embora apareça vivo no quadro. Qualquer coisa como um tio-avô ou um rabino… De qualquer maneira, dá uma expressão intensamente triste, como se o azul fosse um símbolo de distância ou de morte…
Ele não gosta da palavra símbolo, mas fica extraordinariamente contente com a impressão que o azul me deu. Seus olhos brilham de entusiasmo quase infantil.
- Mas, é isso, exatamente isso. Essa cor tem um valor psicológico, você compreende muito bem. Não simboliza nada, mas tem um valor psicológico.
- Sim, mas esse valor, como a própria cor, depende muito das outras cores. O senhor não poderia pintar…
Ele me interrompe:
- Está claro, sei o que deseja dizer. Pelo fato de dar um valor psicológico a uma cor não quer dizer que eu não pinte. Faço pintura. Seria mais fácil fazer pintura apenas com as cores, as linhas, os volumes. Mas querer dar a isso um valor de sentimento não é perder de vista os valores plásticos, pelo contrário, é estudá-los mais a fundo.
Senta-se em uma cadeira perto da escada, sem deixar de me olhar, de me falar:
- É muito difícil… e, sobretudo, inseguro. Essa menina – entrou na sala uma garota de quatro ou cinco anos – minha filha, ela tem muita segurança em tudo… no que é real, no que é imaginário. Eu não tenho segurança em nada, no meio de um quadro me pergunto, com aflição, se não estou falsificando o que eu queria fazer. Não é apenas uma questão de cores…”
__________________________________
Recorte de Discussão com Marc Chagall
Rubem Braga em Retratos Parisienses
sexta-feira, 7 de junho de 2013
OVER
des-ultrapasse-se
des-urbanize-se
des-una-se
des-minta-se
des-funny-se
des-funk-se
des-utilize-se
des-uniformize-se
des-fabrique-se
des-cumpra-se
des-cubra-se
descabele-se
desencana, baby
ninguém vai te dar o que é teu
____________________
Viviane C. Moreira
Recorte do poema Canal 17
Publicado na íntegra: aqui
*Peça de Ma Ferreira - Blog
Mais: ON
terça-feira, 4 de junho de 2013
ON
para Rai Medrado
des-espere-se
des-exaspere-se
des-entranhe-se
des-enterre-se
des-tempere-se
des-foque-se
des-intensifique-se
des-interdite-se
des-interesse-se
des-incendeie-se
des-menstrue-se
des-frute-se
des-empregue-se
des-engavete-se
des-entenda-se
des-esmureça-se
des-mereça-se
des-forre-se
dane-se
dance
o dia
desfuck yeah
____________________
Viviane C. Moreira
Recorte do poema Canal 17
Publicado na íntegra: aqui
*Peça de Acácia Azevedo - Blog
Mais: IN
domingo, 2 de junho de 2013
"Passeio virtual" - Fotolivros (IMS/RJ)
A exposição "Fotolivros latino-americanos", no Instituto Moreira Sales (IMS), no Rio de Janeiro, pode ser vista pela internet, graças ao fotógrafo Marcos Dantas que registrou a exposição em 360 graus.
Por que os fotolivros são interessantes e despertam curiosidade?
Segundo Horacio Fernández (curador da exposição), "um fotolivro é uma publicação constituída por fotografias organizadas como conjuntos de imagens que lidam com questões complexas. É o meio utilizado pelos principais fotógrafos na produção de suas melhores obras, um modelo de eficácia comprovada para apresentar, comunicar e interpretar fotos.
A exposição apresenta uma seleção de fotolivros, acompanhados de fotografias e provas de projeto gráfico, já que todo fotolivro também traz textos e outros materiais visuais. A mostra "Fotolivros latino-americanos" tem como ponto de partida uma pesquisa de quatro anos realizada nas duas margens do oceano Atlântico, que resultou no livro homônimo, editado pelo curador da exposição e publicado por Aperture/Fundación Televisa, Cosac Naify, Editorial RM e Images en Monoeuvres, em 2011. Trata-se de uma antologia de 150 fotolivros publicados entre 1921 e 2009 em vários países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Nicarágua, Peru e Venezuela."
Na seção "Fotografia e Literatura" (1960/1970), há um fotolivro de Fernán Meza (designer do livro) com poesia de Nicanor Parra - "Versos de Salão" (1970). Na projeção, a imagem do poeta chileno emerge, desaparece, desintegra-se e ressurge novamente entre as páginas do fotolivro que mescla ludicamente poesia e imagem.
Para passear virtualmente pela galeria do IMS (RJ), acesse aqui.
***
Um ótimo passeio!
Assinar:
Postagens (Atom)