sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

DAMA DA NOITE


Flávia Rocha*
Foto: Miguel Aun.





soturnos,
mulher,
teus olhos vagueiam no crepúsculo da saudade


libertina
tu fostes
tu és


senhora das tuas ausências


doida a suspirar
em devaneios candentes por um amor,
um amor que não mais terás


por que te estranhas,
mulher?
o que pensas fazer com teu amor partido?


libertina
tu fostes
tu és


escrava do que o amor fez de ti


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Viviane Campos Moreira em AMOR EM PEDAÇOS & VERSOS
Postado em videbloguinho.

*Queima em alta temperatura - argila colorida.
Catálogo cedido por Liege Mendes.

Mais: AMARELINHA.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Facebook e Skype grampeados...

Grampos no Facebook e no Skype podem se tornar realidade. Parece haver a necessidade de grampeá-los. E quando a necessidade se faz presente, ideias saem do papel, estudos são concluídos, projetos são aprovados e se concretizam, sobretudo quando o assunto tem a ver com segurança.

A Casa Branca encaminhará ao Congresso* "projeto de lei para regular serviços de comunicação online como Facebook e Skype para facilitar grampos de mensagens de texto e voz." (...) "Autoridades federais afirmam que sua capacidade de grampear suspeitos de crimes e terrorismo está desaparecendo à medida em que as pessoas usam serviços online em vez de telefones." (Fonte: domtotal.)


* * *


No artigo "Processo penal e direitos fundamentais",o professor da Universidade de Frankfurt Wienfried Hassemer (Revista Del Rel Jurídica, n. 16, p. 71-75) levantou questões interessantes sobre o Direito Penal e o Processo Penal na Alemanha hoje, dando destaque ao "custo da segurança" que, segundo ele, "é produzida tipicamente por meio da limitação de direitos fundamentais, como a liberdade, o patrimônio ou a honra, então a produção de segurança representa normalmente restrição de direitos fundamentais." (...) Apontou dificuldades no entrosamento entre o Direito Penal e a Constituição: "Na Alemanha, ambos correm em separado. Os penalistas não têm a menor ideia da Constituição, e os constitucionalistas têm uma atitude de total indiferença perante o Direito Penal, com algumas exceções."

Numa leitura contemporânea dos direitos e garantias fundamentais, Hassemer abordou a evolução do direito penal e do processo penal, a partir da Alemanha, argumentando que houve "uma diminuição das garantias por uma ampliação do Direito Penal e por um aumento do poder do Estado. E duas explicações para este quadro seriam: "a 'erosão normativa ou erosão das normas sociais', que são normas não escritas expostas à erosão"; normas (e não leis) que a cada dia perdem sua eficácia e "a 'sociedade de risco' (Ulrich Beck)": uma sociedade marcada fundamentalmente pelo agravamento do risco. "A população que compõe esta sociedade encontra-se sujeita a grandes riscos, como graves abusos, destruição do ambiente ao nível internacional, riscos monetários, colapso econômico, criminalidade organizada, corrupção, terrorismo. Os grandes riscos caraterizam-se por não serem domináveis, por serem devastadores quando se realizam, por serem vagos, opacos, enfim, por não serem tangíveis, pois são mais uma sombra que um objeto. Assim, aumenta-se o medo do risco da população e as suas necessidades de controle. Perante a ameaça do risco, a população carece de orientação, de tranquilidade normativa, por isso reage em pânico, sente-se encostada à parede e, em consequência, aumentam as suas necessidades de controle e os seus instrumentos de repressão. As sociedades de risco tendem para uma agravação dos meios repressivos e para uma antecipação do controle". Para o jurista alemão, tais fatos consistem em "agravamento do Direito Penal material, do Processo Penal e em alterações no papel do Estado".

No processo penal, W. Hassemer destacou a tendência atual nas reformas que "se concentram na fase de investigação, isto é, naquela parte do processo em que se trata de instrumentos de controle." Ele se referiu à "observação policial, à busca por meio de cruzamento de dados pessoais, às escutas telefônicas, às escutas secretas em habitações, às informações de serviços secretos para a polícia, aos agentes infiltrados, que são os modernos instrumentos de investigação do processo penal alemão nos últimos anos." Ressaltou dois problemas: "os instrumentos de averiguação têm de ser secretos, pois, se o visado percebe que está sendo investigado, não funcionam; e eles atingem necessariamente terceiras pessoas. Agentes infiltrados, escutas telefônicas, cruzamento de dados, observação policial afetam não só os suspeitos, mas também o seu círculo de relações." Quanto ao processo penal clássico, ele aponta um problema na atualidade: "nele, o visado presume-se inocente na fase de investigação. No entanto, ele tem de tolerar os encargos próprios desta fase (...) com base num fundamento jurídico: a suspeita. Acontece que esses instrumentos de investigação atingem igualmente pessoas que não são suspeitas".

Reflexões oportunas.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sexismo em Hollywood - por Sharon Stone

Indagada numa coletiva em Paris sobre o sexismo em relação a atrizes mais velhas em Hollywood, Sharon Stone respondeu:

Vídeo: clique aqui.


* * *

Que tal?

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Em BH, obras da Bienal de SP 2010

A partir de amanhã, pra quem não viu, ou viu, mas gostaria de rever, estará em BH, até março, a mostra Obras Selecionadas da 29ª Bienal de São Paulo, com curadoria de Moacir dos Anjos. A mostra contará com cerca de 100 trabalhos, entre eles, os desenhos em carvão do artista pernambucano Gil Vicente da série Inimigos, que causou polêmica.

As obras serão expostas no Palácio das Artes e no Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, ambos na Av. Afonso Pena, Centro - entrada franca.

Palácio das Artes: (31) 3236 7400.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

AMARELINHA


Cristina Raid*
Foto: Miguel Aun.





saudade

:

sentir

o

po e ma

que

não

foi

escrito


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Viviane Campos Moreira
Postado em Balaio da Vivi.

*Queima em alta temperatura com engobe.
Catálogo cedido por Liege Mendes.

Mais: CAIXA POSTAL.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Cadê o autor?

Uma boa pergunta...

O professor Hildebrando Pontes Neto, advogado e defensor dos direitos autorais, em artigo publicado no encarte PensarBrasil de 8/1/2011 do jornal Estado de Minas, aponta questões muito interessantes acerca da reforma da Lei dos Direitos Autorais (Lei n. 9.610 de 19 de fevereiro de 1998) e lamenta sua “curta vigência”. Para Hildebrando Pontes, a referida lei “representa um salto moderno e qualitativo a albergar as relações autorais, o que não significa dizer que não possa ser modificada de forma pontual. Sintetiza um apanhado de contribuições dos mais variados segmentos de criação artística do país, expressas livre e democraticamente. A oferta de prerrogativas já incorporadas pela vontade dos autores brasileiros nasceu do exercício contínuo das relações autorais vivenciadas no curso de uma longa trajetória. O ordenamento jurídico destinou aos autores nacionais a faculdade de disponibilidade sobre suas obras, permitindo-lhes dar a elas o destino que elegessem.” Adverte: “Diante das dificuldades de controle da utilização das obras no espaço digital, deseja-se tornar irrestrita a circulação das obras, transformá-las em meros ‘conteúdos’ digitais, ‘flexibilizar’ os conceitos autorais consolidados, políticas que para alguns se transformaram em essenciais para o desenvolvimento do processo de formação cultural do país. Corre-se o risco de se criar, com essa visão unilateral um falso problema de reflexos nefastos, o direito de autor em oposição ao processo cultural brasileiro, como se fossem campos contraditórios, cuja convivência de valores se tornou impossível.” Deixa um recado aos autores: “É preciso, pois, conscientizar os autores brasileiros, em especial os jovens criadores, que eles servem aos interesses das grandes corporações – das telecomunicações, dos provedores de acesso e de ‘conteúdos’ na internet – quando permitem a utilização irrestrita de suas criações artísticas, independentemente de remuneração. Devem ser informados com clareza, até porque a decisão é de cada qual, que o acesso cultural não pode ser defendido em detrimento do seu esforço e do seu talento criativo. A criação não pode ser desestimulada a ponto de submeter o autor aos monopólios de produção, reprodução e comunicação da indústria cultural nacional e internacional, à revelia de retribuição patrimonial."

Fernando Brant também criticou o anteprojeto, definindo-o “um amontoado de asneiras”; “ele retira do autor o poder de decidir sobre a reprodução ou não de suas obras.” Para Brant, “o autor foi fragilizado”.

Fonte: PensarBrasil - Terceiro Sinal, novas leis de incentivo e de direito autoral mobilizam setor da cultura - Estado de Minas (8/11/2011, p.7-8; p.3).

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Nas alturas com Julia Roberts e Richard Gere

Uma cena que muitos gostariam de ter feito, mas os escolhidos: Julia Roberts e Richard Gere.

Uma linda mulher, filme da década de 1990 que consagrou Julia Roberts estrela de Hollywood. Quem consegue imaginar outra atriz no papel de Vivian, uma prostituta que fisga e amarra o bonitão Edward (Richard Gere)? E como o romance se passa na terra dos sonhos, Edward é um milionário, solteirão, mal resolvido no afeto que precisava desesperadamente ser salvo pelo amor de uma mulher - mas não uma mulher qualquer. Teria que ser uma mulher apaixonante. Uma mulher dada às artimanhas do amor. Ao acaso do amor. Uma mulher que não tivesse nada a perder. Que apostasse tudo no amor, menos sua dignidade. Uma mulher experiente. Vivida. Da vida. E... linda.

Edward vacila e Vivian se manda. Ela sonhava alto. Dele, queria mais: o amor que ela despertou nele, no homem que só jogava pra ganhar e ganhava muito, muito dinheiro. Vivian queria que Edward, um homem que conhecia bem os altos da vida, alcançasse a beleza do amor. Vivian também aprendeu a jogar pra não perder.

Na útlima cena, Edward vai atrás de Vivian, como nos contos de fadas. Mas este se passa em Hollywood, onde alguns sonhos se tornam realidade e outros, não. "But, keep on dreaming!"

Vídeo: final de Uma Linda Mulher.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

CAIXA POSTAL


Jane Resek*
Foto: Miguel Aun.


amor, deixa de bronca
a gente brinca e roça

deixa de onda
nosso roçado mal engatinha

deixa de marra
meu corpo reclama por delícias nunca sentidas

deixa de hora
minha urgência fala de mim

deixa de farra
meu sintoma me entrega

deixa de moda
minha vontade me domina

deixa de porém, eu
te amo te rendo te prendo

te deixo
mesmo assim

tanto e mais eu te amo e
não entendes

atende,
amor

tua deixa
te passei

minha senha
eu guardei

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Viviane Campos Moreira em AMOR EM PEDAÇOS & VERSOS.
Postado em videbloguinho.

*Queima em alta temperatura - com redução e uso de óxidos.
Catálogo cedido por Liege Mendes.

Mais: MSN 0.0.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Do vazio da pedra à fantasia?

Talvez seja esta a travessia para os usuários de crack. Um longo caminho para a falta de sentido da pedra... Seria o crack mais um fenômeno do esgarçamento do laço social?

O crack atua no cérebro gerando uma forte e rápida sensação de prazer. O circuito da droga no organismo dura pouco, questão de minutos, e o usuário do prazer retorna à vastidão do desprazer. Em questão de segundos, a droga entra no sistema nervoso central gerando prazer e, em minutos, o usuário experimenta o desamparo de um corpo visitado pelo falso prazer da pedra. Os efeitos do uso prolongado da droga incrementam a agressividade e provocam estados graves de descontrole e desordem. O sujeito perde vínculos de afeto, pertencimento e raízes.

Especialistas apontam o custo baixo da droga como um fator que facilita o seu consumo. Por ser uma droga barata e por gerar tanto prazer, o crack, antes restrito às grandes cidades das regiões Sudeste e Sul, espalhou-se para outras regiões do País.

Mas o que leva uma pessoa a se tornar usuária de crack? Como a nossa sociedade deve olhar para o aumento do consumo de crack?


* * *

No encarte "O crack tem solução" da revista Época, n. 658*, especialistas apontam saídas para os usuários de crack e destacam a necessidade imperiosa de ações conjuntas.

Na Bahia, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, sociólogos, artistas vão para as ruas, até os usuários de crack. São os "Consultórios de Rua", equipes que atuam das 18h às 24h em pontos da cidade de Salvador e atendem de 30 a 60 usuários por visita.

No 9º Juizado Especial Criminal do Rio de Janeiro (9ºJEC-RJ), "os usuários detidos pela polícia participam de audiências coletivas, onde encontram psiquiatras, assistentes sociais, educadores, além dos familiares que são convidados". Segundo o juiz Joaquim Domingos, "a abordagem é multidisciplinar e muito mais eficiente; o grupo percebe que tem problemas parecidos, que podem e devem ser enfrentados."

Para o psiquiatra Auro Danny Lescher, especialista na recuperação de dependentes de crack, "a recuperação passa pelo 'reen-cantamento' do sujeito. Os modelos mais bem-sucedidos de tratamento questionam o pressuposto equivocado de que o usuário é um caso perdido, ou o resíduo de uma sociedade desiludida. É preciso um enfrentamento mais responsável. (...) O grande desafio é oferecer oportunidades de encantamento, enraizamento e pertencimento para essas pessoas."


*Fonte: encarte da revista Época n. 658 (p. 20-21;p.12).

Mais: A dor que não se cala.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Aparência é fundamental, e daí?

A forma desperta olhares. O que tem forma é para ser visto. O olhar distingue bem a forma. Quem olha remodela com seu olhar a forma. Entre forma e aquele que vê: a aparência. Se a forma não pudesse ser vista… É assim que funciona desde que o homem foi dotado de visão para reconhecer o belo e o feio. Uma bela aparência na nossa sociedade abre portas em diversas esferas. É um fator que favorece socialmente o homem e a mulher. A aparência conta na entrevista de um emprego e aponta um lugar de destaque na sociedade. Entretanto, a fixação da aparência como valor trouxe mudanças nas relações sociais, afetivas e na subjetividade.

A busca desmedida pelo ideal de uma bela aparência tem sido associada a doenças como anorexia, bulimia e ao aumento do número de vítimas de danos estéticos, alguns irreversíveis, causados por intervenções cirúrgicas desastrosas.

Padrões de beleza são incorporados pelo homem, e se modificam. O imaginário compõe a forma da beleza de uma época. O que simboliza a beleza muda com o tempo. Gianecchini não faria sucesso nos tempos de 007, quando as mulheres suspiravam pelo peito farto de pelos do Sean Connery. Na literatura, algumas musas dos Românticos eram alvas e lânguidas, possuíam traços de fragilidade e eram adoradas por serem inacessíveis. As heroínas despertavam amores impossíveis de se consumar. A mulher de hoje inspiraria esse perfil?

O que é ter uma bela aparência qualquer um com senso estético, até uma criança, pode responder, mas quem diz hoje o que é bonito, o que é feio? A mídia, a moda, a ciência e a indústria estética reverenciadas pelo clamor do espetáculo.

Fatores além da permissividade e da passividade explicam a dimensão do culto ao espetáculo: o esvaziamento de ideais, o esvaecimento do pensamento e até da inteligência. Numa cena do filme As Invasões Bárbaras (Denys Arcand), quando os amigos se reúnem para se despedirem do querido amigo Rémy, um deles lamenta: “A inteligência desapareceu.”

Mas se a aparência moldada pelo mercado ordena as relações sociais hoje – e não é exagero dizer que as relações afetivas não ficam fora desse ordenamento -, se os padrões que simbolizam o belo não estão mais sob o domínio do imaginário do sujeito, pois não é tão-somente ele enquanto indivíduo quem os cria, o que lhe resta de autonomia na arte da forma? Esta é uma questão que parece escapar do sujeito narcisista da atualidade.

O homem enquanto ser social precisa se inserir na civilização. Tem que conviver com outros homens. O laço social nos une. Temos que conter nossas pulsões, agressividade, para nos inserirmos na cultura. É a condição da civilização. “Sem as renúncias pulsionais não haveria civilização” (Renato Mezan em Freud, pensador da cultura). Portanto, a cultura requer “economia psíquica do ser humano”. Sem sacrifício das pulsões a cultura não sobrevive. Sem cultura não há política, não há direito, não há sociedade.

Hannah Arendt “detestava a celebridade, mas celebrava o aparecer e o espetáculo”. “Admitia o ‘aparecer’ como uma condição para cada um revelar a sua singularidade e o senso político como um ‘gosto’ de mostrar, de observar, de se lembrar e de contar.” (Julia Kristeva em O gênio feminino – a vida, a loucura, as palavras: Hannah Arendt)

Arendt encontrou em Kant (Crítica da faculdade de julgar) a chave para a sua abordagem do julgamento: a ideia de uma pluralidade de espectadores. Para Kant, “o mundo sem espectadores seria um deserto”. “Sem eles os belos objetos não teriam como aparecer, pois estes são criados pelo julgamento dos espectadores e dos críticos.” O espectador kantiano é interessante “enquanto instância do julgamento”. “O gosto é a particularidade que caracteriza os espectadores e fundamenta a comunicabilidade e o julgamento, por ser o sentido mais singular e o mais partilhável. Prefigura a faculdade de julgar e de discernir o verdadeiro do falso.” “O gosto é intrinsecamente político.”

Com Kant e Arendt aprendemos que o gosto é o nosso sentido mais confiável no exercício de aprovação ou desaprovação. Com ele experimentamos sensações imediatas de prazer ou desprazer que dizem do nosso ser. A comunicabilidade do que agrada ou desagrada é inerente ao gosto. A visão pode nos tapear, a audição também. Pensamos que não ouvimos o que nos desagrada, e acreditamos que ouvimos o que não foi dito, pois preferimos o não-dito ao que não queremos ouvir.

O gosto não permite tais enganos. Um bebê sabe disso e nos “diz” do que gosta e do que não gosta. Se não gostar de um alimento ele reage: regurgita-o. Se insistirmos que coma, ele faz careta, fecha a boca e desata no choro, e fim de papo. Então compreendemos que aquele alimento não foi aprovado. Ele não gostou. Ao agir assim, o bebê exercita suas faculdades de julgamento e comunicação a partir da sensação de desprazer advinda do gosto.

Tenho impressão de que estamos nos descuidando do sentido do gosto. Antenados demais nas cartilhas de bom gosto, nas dicas de certo e errado e nos manuais da boa forma obedecemos aos apelos das tendências do momento com subserviência mecânica. Dependentes do olhar técnico estamos deixando de lado a singularidade do gosto: o que nele é nosso. Assim, abrimos mão do prazer do gosto. E, se estamos levando pouco a sério o gosto, estamos ligando o “piloto automático” para o prazer de viver a vida com os sabores que ela generosamente nos oferece. Estamos franqueando nosso sentido mais privado por onde a vida pulsa de verdade – a troco de quê?

Segundo pesquisas realizadas por especialistas, a ansiedade com as festas de Natal e Réveillon aumenta os níveis de estresse por causa da cobrança de felicidade. Todos temos que parecer felizes, pois não há espaço para a aparência de outro sentimento. É bom não esquecer que viver no conforto do parece-ser pode ter certo fascínio, mas a vida forjada na aparência pode não significar nada.


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Viviane Campos Moreira.
Publicado no Amálgama.

(OBS.: para reprodução do texto em blogs, sites, portais, favor observar as normas do blog Amálgama. Favor citar os créditos como especificados no Amálgama. O Balaio da Vivi não autoriza a reprodução do texto de forma diversa ao que está regulamentado no Amálgama.)