terça-feira, 26 de julho de 2011

TERNA PROMESSA


Ma Ferreira*



eu vi o amor passar
e não estava sonhando

nem atribulada com coisa alguma
estava mesmo à toa: vivamente desperta

foi numa manhã clara e
azul de céu sem nuvem

ele chegou disfarçadamente e
me sorriu

mas sem me dizer por que
ele se foi rindo pra mim

eu fui atrás,
mas na vizinhança ninguém sabia dele

então eu corri, corri, corri mais depressa e
gritei o nome dele bem alto, bem alto, bem alto,

o mais alto que eu pude até
cair em mim: estranha

soltei uma gargalhada que se perdeu pequenina no ar e
destrambelhei a xingar e

xinguei e xinguei e xinguei, e
quanto mais eu xingava,

ele sussurrava meu nome longe, longe, longe
calei-me assustada e

ele também
fiquei muda; ele não deu um pio e

com medo do silêncio dele
assobiei uma cantiga de infância e

ele, distante,
respondeu com um assobio de macho novo

então bati meu pé três vezes no assoalho e ele também e
ficamos assim sapateando de cá e de lá de lá e de cá lá cá lá até cansar

daí eu disparei a correr a gritar a rir a xingar a assobiar a dançar
porque ele me quer assim: amante obediente


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Viviane Campos Moreira em AMOR EM PEDAÇOS & VERSOS.
Postado em videbloguinho.
Publicado na revista Mucury n. 9

*Imagem cedida por Ma Ferreira, autora da peça.
Blog ARTE EM CERÂMICA.

Mais: LINHA CRUZADA.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Tarsila e os modernistas

HOJE é o último dia da exposição Tarsila e o Brasil dos Modernistas que reúne várias obras, com técnicas diversas – óleo, guache, aquarela, nanquim, pastel, carvão - em desenhos, telas, esculturas, entre outros, representando “paisagens, tradições e tipos brasileiros”.

A exposição conta com obras de Tarsila do Amaral e de Portinari, Ismael Nery, Oswaldo Goeldi, Di Cavalcanti, Lasar Segall, Guignard, Cícero Dias, Flávio de Carvalho, Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret. E tem como curadora, Regina Teixeira de Barros.

Interessante o contraponto entre a representação do Brasil nas obras de Tarsila do Amaral e nas de Flávio de Carvalho, Oswaldo Goeldi, Cícero Dias e Di Cavalcanti. Nas obras de Oswaldo Goeldi, o Rio é representado de uma forma sombria – com personagens solitários e assombrados pela morte. Em contraste com o “verde cantante” da Tarsila, outras cores representam um outro Brasil.


Casa Fiat de Cultura - Belvedere (BH/MG)
Informações: (31) 3289 - 8900
Horário: das 10h às 21h
Site: www.casafiatdecultura.com.br

Catálogo da exposição no site da Casa Fiat: aqui



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Na Flip deste ano, o modernista Oswald de Andrade foi o homenageado e, em 2012, a Semana de Arte Moderna completará 90 anos.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Na onda do Rio

Minas adere às blitzes do Rio.

Em BH - "a capital dos botecos" - a eficácia da Lei Seca tem sido bastante criticada. "O governo do estado marcou para HOJE*, o início de uma campanha permanente que promete seguir o rigoroso modelo adotado no Rio de Janeiro. O motorista que apresentar sinais de embriaguez terá a carteira de habilitação cassada por um ano e poderá responder a processo criminal.

As blitzes da campanha, batizada de Sou pela vida, dirijo sem bebida, vão ocorrer sempre de quinta a sábado em pontos "supresa" que tenham grande concentração de bares, boates e restaurantes, como os bairros de Lourdes e Sion, na Região Centro-Sul da capital, e a Avenida Raja Gabaglia. As entradas da cidade, corredores viários e pontos com grande ocorrência de acidentes e mortes no trânsito também vão receber as equipes da Lei Seca, que vão se movimentar e trocar de ruas durante a noite e na madrugada. (...)

Um dos desafios da nova campanha é resgatar a credibilidade da Lei Seca que em 3 anos apresentou resultados pouco expressivos em Minas. O estado ocupava até o ano passado uma das últimas posições no ranking do Ministério da Saúde de redução de mortes no trânsito. Segundo o relatório divulgado em 2010, houve redução de 4,2% das vítimas de trânsito no estado mineiro - de 3.781, antes da lei, para 3.621 depois que ela entrou en vigor. Minas atingiu índice 7,7 vezes menor que o do primeiro colocado, o Rio de Janeiro, que registrou queda de 32%."


*Fonte: Estado de Minas - Gerais, p.21 de 8/7/2011.


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Mais: Temporão, a Lei Seca e o pai.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

LINHA CRUZADA


Ma Ferreira*




ele ligou sábado à tarde
e se encantou
pela voz

tão doce
tão sensual
tão pronta

inspirado no Lulu Santos
esperou o sábado pra ligar
- mas lamentou ter demorado tanto -

não lhe disse seu nome
era só alguém do teatro
e não queria assustá-la

ela quis saber quem era ele
uma pausa:
- ah, quisera eu te dizer

ela insistiu:
- por que não diz?
silêncio do outro lado da linha

ela, que não era dada a esperas,
perguntou:
- afinal, quem é você?

tuc tuc
tuc tuc
tuc tuc

assim
ela desligou o telefone:
- mais um mudinho

pra ele
ela
assim:

tão doce
tão sensual
e

tão pronta


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Viviane C. Moreira
Poema originalmente postado no ARTE EM CERÂMICA.

*Imagem cedida por Ma Ferreira, autora da peça.

Mais: TARDE OBSCENA.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Arte e afeto


Virgílio Dias*


Até dia 10 de julho, na galeria Dom Quixote, no Shopping Leblon, no Rio, exposição de Virgílio Dias que retrata cenas do cotidiano - pessoas na praia, nos jardins, nos cafés, em delicados momentos marcados pelo afeto.


*Catálogo da mostra Revelações.

Dom Quixote Galeria de Arte.
Shopping Leblon - Rio de Janeiro.
Site: www.galeriadomquixote.com.br

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Flip 2011

Começou HOJE a 9ª edição da Flip - Festa Literária Internacional de Paraty - que tem como homenageado o modernista Oswald de Andrade. Segundo o curador da Flip 2011, o jornalista Manuel da Costa Pinto, a homenagem a Oswald "veio a calhar", pois, em 2012, a Semana de Arte Moderna (1922) completará 90 anos, e sua obra poderá ficar mais conhecida, com as homenagens da Flip - teatro, shows e debates.

Na programação oficial, Antonio Candido e José Miguel Wisnik participam da conferência de abertura da Flip, discorrendo sobre a obra de Oswald de Andrade. Na sexta-feira, Ignácio de Loyola Brandão e Contardo Calligaris participam do debate "Ficções da crônica" na Mesa 8, com mediação de Cadão Volpato. E, no sábado, João Ubaldo Ribeiro, pela primeira vez na Flip, participa do debate "Alegorias da ilha Brasil" na Mesa 13, com mediação de Rodrigo Lacerda. Além da Flip, também há a Flipinha, para o público infantil, e a FlipZona, para adolescentes.

Para o jornalista Sérgio Rodrigues (blog Todoprosa) "há indícios de amadurecimento em pelo menos uma das atrações que ocorrerão no entorno da Tenda dos Autores: as duas conferências do projeto Brazilian Publishers, na noite de quinta-feira, em que editores e agentes literários nativos e estrangeiros discutirão diante da plateia da Casa da Cultura modos de divulgar a quase secreta literatura brasileira no exterior".

Na programação paralela, eventos interessantes: palestras, bate-papos... O Clube dos Autores está cobrindo a Flip 2011 e participando, paralelamente, com uma programação muito interessante, sobretudo para autores independentes.



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Mais: abertura da Flip 2011 por Sérgio Rodrigues.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Blog da Malvine Zalcberg

Agora podemos ler, no Blog da Malvine, seus textos - em português e francês. A psicanalista carioca Malvine Zalcberg, autora de A relação mãe e filha, Amor paixão feminina e Qu'est-ce qu'une fille attend de sa mère? (Que é que uma filha espera de sua mãe?) participa de palestras, conferências, cursos, sempre falando sobre o amor.

No blog, Malvine comenta filmes, textos literários, obras de arte e fatos da sociedade em linguagem acessível ao público em geral - também aos leigos em psicanálise. Em um dos posts, Malvine comenta o intrigante filme As Horas.

Blog da Malvine: aqui.


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Mais sobre Malvine Zalcberg aqui no Balaio: A trama do amor entre o homem e a mulher; A mágica do amor na conferência de Malvine; O que as mulheres não querem?

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Se tudo acaba, o que fica?


Sandra Bagetti Menezes*
Foto: Miguel Aun.


Certa vez, em um programa de tevê, disse um médium, com entusiasmo: “Morrer não é vantagem!” Fiquei pensando na seriedade da fala bem-humorada desse homem… Ocorreu-me que muitas vezes a morte é aceita como alívio, bênção e até como o acontecimento de toda uma vida. Raro quem dê conta da morte simplesmente; da morte enquanto morte; mor-te.

Quantas são as histórias em que alguém conhecido e estimado é acometido por uma doença grave e falece, depois de muito sofrer? Então, aceitamos sua morte – por solidariedade, aliviados. E quando se trata da partida inesperada de alguém que muito amamos, chegamos ao absurdo de perdoar a morte, como se ela fosse uma bênção… Repetimos pra gente mesma que talvez a pessoa amada tenha sido poupada de um longo sofrimento, ao partir quando ainda havia esperança de cura, mesmo que remota. Fazemos esse jogo de cena com a morte pra suavizar a perda. Pra suportar nossa impotência diante dela, da morte.

Curioso, no entanto, quando encaramos a morte como um grande acontecimento. É o caso daquele sujeito que vive uma vida pacata, não é um cidadão notável, e a morte o leva ao zênite absoluto ou à celebridade. Esse sujeito – que está em extinção na era das redes sociais – pode ser um vizinho com quem topamos, diariamente, no elevador, no hall, na garagem do prédio, sem percebê-lo, porque não há nada demais nele. Nada extraordinário na vida dele; aliás, ele é um cara totalmente na dele. Tudo nele é tão normal, tão comum e habitual demais até que… ele morre em um desastre espetacular, virando herói ou simplesmente ficando famoso. A morte torna-se o grande acontecimento da vida dele. Então, ouvimos o espanto daqueles que relatam o episódio: “É, pra morrer, basta estar vivo!”

Inspiramos. Expiramos. Soltamos o ar, lívidos, com a presença da morte. Por alguns dias, e brevemente, pensamos nela, quando sentimos sua proximidade por obra do acaso – na vida dos outros. E mesmo sabendo que a morte é uma presença indesejada, mas há muito confirmada na festa da vida, insistimos em tapeá-la, como se ela não fosse chegar nunca, ou tão cedo, ou somente no momento certo. Assim, vamos levando nossa vidinha, acreditando, por vezes, que não vamos morrer. Os outros, tudo bem.

E ela chega, às vezes sem dar qualquer sinal. Sorrateiramente. Chega de uma vez, sem dar tempo pra um acordo. Sem dar tempo ao próprio tempo. Intratável. Avarenta. E sacana. Só mesmo Woody Allen pra enrolar a morte propondo-lhe uma biribinha, na qual ela foi vencida e posta pra correr – no conto “A morte bate à porta”, em Cuca Fundida (tradução de Ruy Castro).

A morte chega com muitas perguntas sem respostas. O que de nós permanece? A última palavra? O último olhar? O último gesto? O último suspiro? Filhos dão um conforto, em termos de continuidade. Amigos saberão nos deixar bem vivos na lembrança do que lhes demos fortuitamente; algo nosso, sem sabermos o quê. Aqueles que nos amam irão se lembrar de nós espontaneamente, com um sorriso secreto gostoso. Seremos refeitos por quem nos ama; reavivados no afeto depois da dor do luto. Mas o que fica da gente passa a ser do outro, que se apossa da nossa história. Deixamos pra quem amamos os bordados da nossa vida que não conheceremos… Renascemos na imaginação do outro? Talvez. Entretanto, a narrativa também não é mais nossa.

No filme Hanami – Cerejeiras em flor, o marido, após a morte súbita da mulher, busca encontrar dentro dele a mulher que ele não conheceu. Ele usa as roupas da mulher para que “ela” conheça a cidade de Tóquio e o Monte Fuji que, por anos, emolduraram sua fantasia. O marido deseja encontrar essa mulher, que ele não conseguiu conhecer, vestindo a fantasia dela, à qual ele foi indiferente – o casamento deles foi pleno de amor, mas muito fechado para a fantasia. Ele conta com a ajuda de uma desconhecida que se torna sua amiga e o leva ao encontro grandioso com a mulher, que ele não conheceu… E enquanto ele descobre o amor sublime que passa pela fantasia, seus filhos não ultrapassam as fronteiras do próprio imaginário em relação ao pai. Quando este morre, os filhos narram a história de um homem sobre quem eles supostamente tudo sabiam. Mesmo surpreendidos pela morte estranha do pai, eles não conseguem sequer pensar em um homem que se reinventou, com o renascimento da mulher na sua imaginação, na sua vida, nele mesmo. O homem que se tornou herdeiro de uma fantasia. E, por ela, foi salvo.

Ah, as palavras que gostaríamos de ouvir em nossos últimos instantes de vida? São as que não hesitaríamos em dizer a quem amamos nos seus últimos segundos de vida. A morte chega mesmo, mas não precisamos dela pra dizer eu te amo. Tampouco, pra nos despertar para a fantasia. Para a vida.



Viviane Campos Moreira.
Crônica publicada no Amálgama.

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*Cerâmica com engobe.
Catálogo cedido pela artista plástica Liege Mendes.