sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Calhordas anônimos


Jaguar em Livro de Versos do Rubem Braga.



Quem são eles? Quem entra no clube? E quem dele não sai nem mesmo morto?

Os calhordas anônimos são uma categoria nova de calhordas. Em época de campanha eleitoral, eles plantam na web informações sem fonte nem autoria, e-mails estranhos, com recortes e montagens e xingamentos porque eles ainda não sabem que a comunicação na internet está à frente da falta de educação deles. Sim, eles ainda conseguem muita coisa com o jeitão anárquico da internet, mas se enganam com a comunicação que vem sendo feita nas mídias sociais por meio de produtores de informação que não pertencem ao clube. Os calhordas sempre cometem o mesmo erro: subestimam quem está fora do clube. Isso mesmo, os calhordas anônimos não levam em conta que hoje estamos na era da produção de informação: o consumidor passivo de informação está em extinção e duvido muito que a espécie queira ser preservada. Aquele consumidor passivo que só recebia a informação sem manifestar sua opinião está acabando – restam alguns, no entanto, que são alvos dos calhordas anônimos, pois na internet “democrática” tem lugar pra todos. Cuidado, portanto, com eles, os calhordas anônimos.

Curioso que há uma descrição dos calhordas que permanece bem atual. Rubem Braga traçou um perfil maravilhoso. É um poema de 1953 que se encontra no livro de poesia do Rubem Braga - que era cronista e fazia poesia em prosa. Tenho o exemplar de Livro de Versos , edição em comemoração aos 80 anos do Braga, com prefácio de Affonso Romano de Sant’Anna e ilustrações de Scliar e Jaguar. O meu foi comprado em sebo, e mesmo amando vocês, não o empresto. Salve, Braga!


* * *


ODE AOS CALHORDAS


Os calhordas são casados com damas gordas
Que às vezes se entregam à benemerência:
As damas dos calhordas chamam-se calhôrdas
E cumprem seu dever com muita eficiência

Os filhos dos calhordas vivem muito bem
E fazem tolices que são perdoadas.
Quanto aos calhordas pessoalmente porém
Não fazem tolices – nunca fazem nada.

Quando um calhorda se dirige a mim
Sinto no seu olho certa complacência.
Ele acha que o pobre e o remediado
Devem procurar viver com decência.

Os calhordas às vezes ficam resfriados
E essa notícia logo vem nos jornais:
“O Sr. Calhorda acha-se acamado
E as lamentações da Pátria são gerais.”

Os calhordas não morrem – não morrem jamais
Reservam o bronze para futuros bustos
Que outros calhordas da nova geração
Hão de inaugurar em meio de arbustos.

O calhorda diz: “Eu pessoalmente
Acho que as coisas não vão indo bem
Pois há muita gente má e despeitada
Que não está contente com aquilo que tem.”

Os calhordas recebem muitos telegramas
E manifestações de alegres escolares
Que por este meio vão se acalhordando
E amanhã serão calhordas exemplares.

Os calhordas sorriem ao Banco e ao Poder
E são recebidos pelas Embaixadas.
Gostam muito de missas de ação de graças
E às sextas-feiras comem peixadas.

2 comentários:

  1. Que post!
    Mais os anônimos são mesmo uns calhordas, covardes.
    Muito bom você compartilhar tamanha verdade.
    Xeros

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  2. Oi, Xeros!
    Que bom ver vc aqui!!!
    Este poema do Rubem Braga merece ser sempre lembrado, não é?
    Um abraço pra vc, Xeros!

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