quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A língua que todos entendem



Iris, filme de Richard Eyre baseado no livro de John Bayley sobre a filósofa e escritora irlandesa Iris Murdoch, acometida pelo mal de Alzheimer. A doença foi enfrentada como o único mal invencível. 

Iris (Kate Winslet e Judi Dench) nos convida a navegar na força do seu pensamento, no fulgor da sua mente, na sua solitude, na sua criação e nos seus tormentos. Em torno de uma mesa com amigos, Iris fala sobre a linguagem:

"- Claro que é questionável descrever os sentimentos. Por mais que se tenha cuidado, assim que se começa a definir um sentimento, a linguagem o trai. Não bastam palavras para dizer a verdade. Quase tudo, exceto coisas como passe o molho, é uma espécie de mentira."  

O professor de literatura John Bayley (Jim Broadbent) a escuta. Encantado. Talvez pensasse: o que há detrás desses olhos tão vivos e detrás da alegria desse corpo? Qual a medida do mundo dessa mulher? Talvez não pensasse em nada disso quando dançava, ou nadava, ou andava de bicicleta com ela.

Iris faz sua escolha: "Eu te quero, John Bayley." Ele diz sim. Tornam-se amigos e amantes. Cúmplices na linguagem e na vida. “Sem as palavras, como iríamos pensar?” – indaga Iris.

Convidada para falar sobre educação, então autora de 26 romances, Iris Murdoch diz a uma plateia de gente bem-educada:

"- A educação não traz felicidade e nem sequer liberdade. Não nos tornamos felizes porque somos livres, mas a educação pode ser o meio pelo qual percebemos que somos felizes. Abre nossos olhos e nossos ouvidos. Conta-nos onde se escondem os prazeres. Convence-nos de que só existe uma liberdade: a da mente. E nos dá a segurança, a confiança para trilhar o caminho da mente, que nossa mente educada proporciona."

John, em uma conversa com Iris, lamenta: "A única linguagem que se entende hoje é a imagem. Faça o retrato." Diz Iris  "Amor é a única língua que todos entendem."

Iris Murdoch, mais velha, discursa sobre o amor:

"- Os seres humanos se amam: no sexo, na amizade, quando estão apaixonados, e cuidam de outros seres: humanos, animais, plantas e até mesmo pedras. A busca e a manutenção da felicidade estão em tudo isso e no poder da nossa imaginação. Toda alma humana assume, talvez mesmo antes do nascimento, formas puras, tais como: justiça, moderação, beleza e todas as qualidades morais de que nos honramos. Somos levados em direção ao bem, pela vaga lembrança dessas formas simples, tranquilas, abençoadas, as quais vimos uma vez em uma luz límpida e clara, sendo nós mesmos puros."

A história de liberdade, desejo, amor, gozo, angústia e cuidado foi vivida com John, para quem Iris dizia: "É só ficar ao meu lado e tudo ficará bem."

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Viviane Campos Moreira
Postado no videbloguinho

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