terça-feira, 26 de julho de 2011

TERNA PROMESSA


Ma Ferreira*



eu vi o amor passar
e não estava sonhando

nem atribulada com coisa alguma
estava mesmo à toa: vivamente desperta

foi numa manhã clara e
azul de céu sem nuvem

ele chegou disfarçadamente e
me sorriu

mas sem me dizer por que
ele se foi rindo pra mim

eu fui atrás,
mas na vizinhança ninguém sabia dele

então eu corri, corri, corri mais depressa e
gritei o nome dele bem alto, bem alto, bem alto,

o mais alto que eu pude até
cair em mim: estranha

soltei uma gargalhada que se perdeu pequenina no ar e
destrambelhei a xingar e

xinguei e xinguei e xinguei, e
quanto mais eu xingava,

ele sussurrava meu nome longe, longe, longe
calei-me assustada e

ele também
fiquei muda; ele não deu um pio e

com medo do silêncio dele
assobiei uma cantiga de infância e

ele, distante,
respondeu com um assobio de macho novo

então bati meu pé três vezes no assoalho e ele também e
ficamos assim sapateando de cá e de lá de lá e de cá lá cá lá até cansar

daí eu disparei a correr a gritar a rir a xingar a assobiar a dançar
porque ele me quer assim: amante obediente


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Viviane Campos Moreira em AMOR EM PEDAÇOS & VERSOS.
Postado em videbloguinho.
Publicado na revista Mucury n. 9

*Imagem cedida por Ma Ferreira, autora da peça.
Blog ARTE EM CERÂMICA.

Mais: LINHA CRUZADA.

5 comentários:

  1. Sim, Xeros, promessa tem que pagar!
    E esta aí a mulher do poema há muito tempo já pagou e continua pagando... Mais ou menos uma promessa permanente, sem fim. Há tanto tempo ela vem cumprindo essa promessa que pra ela tornou-se terna esta promessa: o amor.
    Uma bjoca, querida Xeros.
    Vivi.

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  2. Oi, Ma!
    Pois é! Há a sua cota de beleza no post - uma cota grande, diga-se!
    Querida Ma, mais uma vez, grata por colaborar com suas peças belas.
    Bjo.
    Vivi.

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  3. Vivi..é um prazer eum orgulho pra mim..pode acreditar...
    bj
    lindo domingo a vc!!!

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