Talvez seja esta a travessia para os usuários de crack. Um longo caminho para a falta de sentido da pedra... Seria o crack mais um fenômeno do esgarçamento do laço social?
O crack atua no cérebro gerando uma forte e rápida sensação de prazer. O circuito da droga no organismo dura pouco, questão de minutos, e o usuário do prazer retorna à vastidão do desprazer. Em questão de segundos, a droga entra no sistema nervoso central gerando prazer e, em minutos, o usuário experimenta o desamparo de um corpo visitado pelo falso prazer da pedra. Os efeitos do uso prolongado da droga incrementam a agressividade e provocam estados graves de descontrole e desordem. O sujeito perde vínculos de afeto, pertencimento e raízes.
Especialistas apontam o custo baixo da droga como um fator que facilita o seu consumo. Por ser uma droga barata e por gerar tanto prazer, o crack, antes restrito às grandes cidades das regiões Sudeste e Sul, espalhou-se para outras regiões do País.
Mas o que leva uma pessoa a se tornar usuária de crack? Como a nossa sociedade deve olhar para o aumento do consumo de crack?
* * *
No encarte "O crack tem solução" da revista Época, n. 658*, especialistas apontam saídas para os usuários de crack e destacam a necessidade imperiosa de ações conjuntas.
Na Bahia, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, sociólogos, artistas vão para as ruas, até os usuários de crack. São os "Consultórios de Rua", equipes que atuam das 18h às 24h em pontos da cidade de Salvador e atendem de 30 a 60 usuários por visita.
No 9º Juizado Especial Criminal do Rio de Janeiro (9ºJEC-RJ), "os usuários detidos pela polícia participam de audiências coletivas, onde encontram psiquiatras, assistentes sociais, educadores, além dos familiares que são convidados". Segundo o juiz Joaquim Domingos, "a abordagem é multidisciplinar e muito mais eficiente; o grupo percebe que tem problemas parecidos, que podem e devem ser enfrentados."
Para o psiquiatra Auro Danny Lescher, especialista na recuperação de dependentes de crack, "a recuperação passa pelo 'reen-cantamento' do sujeito. Os modelos mais bem-sucedidos de tratamento questionam o pressuposto equivocado de que o usuário é um caso perdido, ou o resíduo de uma sociedade desiludida. É preciso um enfrentamento mais responsável. (...) O grande desafio é oferecer oportunidades de encantamento, enraizamento e pertencimento para essas pessoas."
*Fonte: encarte da revista Época n. 658 (p. 20-21;p.12).
Mais: A dor que não se cala.
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Antigamente,so preto e favelado se deixava escravizar pela violencia e pelas drogas.Hoje,os ricos,brancos e todas as classes sociais estao condenados a pagarem o mesmo preço.A violencia nao escolhe classe,mas foi ignorada por quem detinha o poder de fazer algo pelos menos favorecidos.Agora,ninguem está livre de ter na familia um drogado,alguem marginalizado.O terror das drogas nao estava presente somente nos guetos.Favelado nao tem aviao nem navio pra trazer tais mercadorias do exterior! Ate quando vamos ver gente se matando por nada? Ate quando cruzaremos os braços?
ResponderExcluirOi, Hugo! Grata pelo seu comentário! Interessantes as questões que vc levanta... Vc tem razão qdo diz que "a violência não escolhe classe" - nao escolhe mesmo não. Na realidade, ninguém esteve nem estará livre de um problema com drogas na família. Poderíamos até ampliar o conceito de drogas, levando em conta a medicação excessiva hj! No caso do crack, com seus efeitos devastadores que fazem o sujeito romper com laços que o vinculam à vida em sociedade (família, escola, emprego, comunidade) há mesmo urgência de respostas eficazes. A sociedade civil e o Estado estão se organizando para cuidar dessa questão. E nós, cidadãos comuns, que não participamos de nenhuma organização nem do governo, devemos ter em relação aos usuários de droga, um olhar isento de discriminação, pois a eles pode ter faltado algo fundamental. E sempre que a educação falha, ninguém fica bem na foto, não é? Volte sempre! Um abraço.
ResponderExcluirHugo, acabo de ler o artigo da historiadora Lucília de Almeida Neves Delgado "Cinema e Realidade" (PensarBrasil, encarte do Estado de Minas de 8/1/2011) no qual ela faz uma comparação muito interessante entre os filmes "Rio quarenta graus" (1955), "Cidade de Deus" (2002) e "Tropa de Elite 2" (2010). Me lembrei de vc, do seu comentário... Ela comenta sobre o choque de realidade dos espectadores em relação à tônica atual da violência. Comparando as épocas, ela aponta a distância entre as realidades sociais dos filmes "Rio quarenta graus" e "Tropa de elite 2". Uma explicação para o aumento da violência nas favelas das grandes cidades? Ela diz: "A resposta é clara: ausência histórica de políticas públicas e descaso da maior parte dos integrantes das elites privadas e públicas para com as questões sociais no Brasil. Descaso secular que se agravou, de forma incontestável, nos últimos 30 anos. A esses fatores somam-se muitos outros. São eles de ordem psicológica, individual e coletiva, de internacionalização do tráfico de drogas, de trajetória de vidas, de índoles das pessoas, de atração pelo exercício do poder, mesmo que por vias transversas, de desejo de consumo (...)"
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