quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Entre o sonho e a realidade
Duas frases, duas personagens, dois sentidos para o sonho.
Roseline, no filme francês Roseline e os leões, era uma jovem sonhadora quando se despertou para o desejo de vir a ser domadora de leões. Em um momento de seu percurso, lhe disseram: "Roseline, a menor distância entre dois pontos é o sonho". Assim, Roseline parte em busca do seu sonho e se entrega à paixão pelos leões. Com coragem e determinação, tornou-se uma efusiva domadora de leões fascinada pela beleza e pela robustez dos mimados reis da selva.
Em outro filme, Harry Potter, um bruxinho que até certa idade não sabia de seus poderes, era órfão. Foi criado por tios pouco afetuosos. Tolerava, nem sempre, um primo mal-educado. Convivia com essas pessoas e sofria boicotes e outras práticas de desamor. Não tinha um quarto, mas um cubículo sob a escada. Nessa casa, com essas pessoas, Harry estava se tornando um garoto subserviente e, na mesma medida, desobediente. Mas há a escola.
Na fantástica escola de bruxos, Harry, em um momento, se prostra diante de um espelho mágico no qual vê o seu desejo projetado em uma imagem: o encontro dele com os pais. Através desta imagem, Harry vive seu sonho como negação da sua condição de órfão. Entrega-se, por instantes, à projeção de uma vida rica de afeto. Em um misto de estranheza e euforia, procura seu amigo para testemunhar a imagem do seu belo retrato de família: Harry, entre seus pais. Mas seu colega lhe diz que não estava vendo a mesma imagem, mas uma outra e de um outro. O amigo se via triunfante como chefe dos monitores e líder do time do esporte praticado na escola.
A partir da revelação da imagem vista pelo amigo, Harry se abandona diante do espelho na tentativa de fuga da sua realidade. Eis que surge o Mestre dos bruxos e lhe diz: "Devemos ter cuidado com os sonhos, Harry. Não vale a pena viver sonhando e se esquecer de viver".Nesse instante triunfante de magia, no qual o Bruxo sábio utiliza-se das artimanhas da filosofia para alternar o olhar da personagem a fim de despertá-la para um outro Harry, capacitado a modificar a própria vida, o personagem desperta-se para enfrentar sua orfandade.
Embora haja no contexto de Harry Potter um desejo similar ao da personagem Roseline, pois Harry também deseja transpor sua realidade, seu sonho não o investe em movimento algum, mas na paralisia de uma fantasia com matiz melancólico.No filme Roseline e os leões, o sonho para a personagem tem o significante de promessa de construção de uma outra realidade. Em Harry Potter e a pedra filosofal, a fantasia apenas encobre o mal-estar da personagem.
Ocorreu-me o quanto o ser humano vive entre o sonho e a realidade. O que esses momentos renitentes em que nos flagramos entre o sonho e a realidade têm a nos dizer? Talvez a indagação não se esgote em uma resposta. Ou, talvez, a resposta esteja na indagação.
Viviane Campos Moreira. Postado em videbloguinho
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