terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Além da imagem

Foto: Guto Muniz

 
Espelho. Imagem. 
Reflexos: côncavo-convexos.
Projeções. Simetrias. Olhar perplexo.
Tempo demais. Tempo de menos.
Urgência. 
Entre o ser e o aparecer, estranhamento.
Aquele que se vê já não se reconhece.
Onde se perdera?
Em que ponto obscuro do cotidiano?
 
Um homem e três tempos: Horácio jovem; Horácio adulto; Horácio maduro. Um homem que olha para trás a fim de entender quando deixou de existir. Um homem que, quando jovem, se dizia ter nascido para ser poeta. Um homem adulto que se torna advogado. Um homem maduro que se vê como seu próprio traidor.

Horácio se estranha. Horácio se julga. Horácio se queixa. Constata ter sido seu próprio traidor. Horácio conta e reconta sua história de traição. Fala da vida. Da sobrevivência. Da existência. Do estar no mundo entre o nascimento e a morte.

Em algum ponto do seu percurso, o ser poeta não coube mais na sua vida. Horácio perdeu-se da sua poesia. Horácio traiu a poesia. Maduro, despe-se diante de um espelho e se indaga:

"- É isso o que restou? Um monte de carne e ossos? Cadê a alma?"

O espelho não prende mais Horácio naquilo que ele não vê. As simetrias não confortam mais Horácio, que nos adverte:

"- A vida é torta. A simetria acalma."
 
***

Peça: Horácio
Dramaturgia: Edmundo de Novaes Gomes.
Direção: Carlos Gradim.
Montagem: Odeon Companhia Teatral.
Com Geraldo Peninha, Leonardo Fernandes e Sávio Moll.
 
A peça integrou o Verão Arte Contemporânea (VAC) 2014.

Mais sobre a peça: aqui.

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