segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Devaneios, dores e outras paixões

Nunca pensei que um dia eu pudesse deitar ao lado do Beto Guedes... Isso simplesmente aconteceu! Mal sabe o Beto que eu fui apaixonada por ele, loucamente apaixonada - eu e minhas amigas todas. Eu era vidrada em um LP dele - isso mesmo, long play! – que tinha, na capa, uma foto dele despenteado, com cabelo e cara de quem acabou de acordar, saiu da cama e foi direto pra janela ver o dia, enrolado em uma manta azul. Um homem, um menino selvagem, com o nome de Beto - como não se apaixonar, sendo uma adolescente?

Mas eu também era apaixonada pelo Lô, pelo Flávio, pelo Milton, por Caetano, Gil, Chico, pelo Ivan, sem falar do Zé, do Alceu, do Geraldo e do Vinicius. Ah, pelo Vinicius, sou apaixonada desde  garotinha, por causa de uma prima, mais velha do que eu, que tocava, no violão, as canções dele. E também por causa de minha mãe que preferia ser alegre a ser triste.

Às vezes, herdamos paixões dos irmãos e dos primos mais velhos, dos pais, professores, amigos, namorados... Com o Beto, não. Não foi assim. Essa paixão foi toda minha. Eu ainda morava no interior e sonhava com o show dele... Minhas primas, que moravam em BH, me contavam que tinham ido ao show do Beto e eu sonhava, sonhava com meus 15 anos... Desejava que eles chegassem depressa. "Quando eu fizer 15, vou morar em BH, aí sim! vou poder ir aos shows do Beto, do Lô, do 14 Bis, do Sagrado... e, quando vier para as férias de julho, vou contar para as minhas amigas daqui como foi estar com eles no mesmo espaço, tão perto, quase podendo tocá-los." E assim foi...

Deitada na cama, ao lado da dele, fiquei imaginando se ele gostaria, ou não, de saber que a mulher ali ao lado dele foi loucamente apaixonada por ele... (Tudo bem: eu e mais umas mil meninas!) Como eu diria isso a ele?  - Oi, Beto, tudo bem? Se eu te disser uma coisa, você não vai rir de mim? (Ele, sendo o Beto, responderia: "- Não, não vou rir de você. Por que eu riria? É alguma coisa engraçada?" - e daria aquele sorriso...) Eu, sem graça, ga-gue-ja-ri-a: - É, então, Beto, então, eu fui loucamente apaixonada por você!

- Tudo bem aí, Seu Beto? Pergunta a fisioterapeuta simpática.

Ele sorri, dizendo que sim. E eu ali, do lado, pensando... "Seu Beto? Ele é o Beto – o Beto! - aquele da capa do LP, com o cabelo sem pentear e uma manta azul sobre o corpo, na janela... O Beto!" E esta cena acontecendo em setembro, com a primavera chegando, ensolarada.

Olho para o lado esquerdo da minha cama e vejo duas senhoras se alongando, cada uma em sua cama, ambas animadas. E uma disse à outra:

- Você estava aqui, ontem, quando a Suzana falou que velhice é coisa do capeta? Quase caí da cama de tanto rir! Mas se eu caísse, ia ser um estrago. Imagina...

A amiga riu, e eu também.

- Dona Verônica, flexiona mais, pode flexionar mais, Dona Verônica! – falou com firmeza, a fisioterapeuta.

- E você, qual é a sua dor? Dona Verônica me perguntou. E antes que eu respondesse, ela me explicou:

- É assim, viu? As dores vão surgindo, de uma hora pra outra, mas, no seu caso, né, deve ser uma dorzinha boba, dessas que passam logo.

- Dona Verônicaaa, a perna. A perna, Dona Verônica, vai! – repreendeu a fisioterapeuta.

É, só sei que eu arrumei uma dorzinha até boa. Por conta dela, tenho me divertido com minhas vizinhas de cama e voltado ao tempo mágico das paixões feitas de sonho. Tudo isso não sendo desse jeito assim, mas sendo, em uma hora de sessão de fisioterapia - que voa.

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Viviane Campos Moreira
Postado em Balaio da Vivi

2 comentários:

  1. Aaaaai amei!!!
    Aconteceu de verdade?? ^^

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  2. Ou será que foi um devaneio? (rs)
    Legal, Clara, que vc amou!
    Obrigada, querida, pelo carinho!
    Beijo.

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