terça-feira, 10 de maio de 2011

Etiqueta inútil

Atrasada. Sábado de manhã, palestra da Lya Luft no Grande Teatro do Palácio das Artes - não quero perder por nada o Sempre um Papo com a Lya no belo teatro; acordo. Levanto e preparo meu café bem preto. Café forte. Preto. Café de verdade. Café.

Desperto sem cara de manhã de sábado. Chego ao Palácio das Artes quando a Lya fala sobre o seu processo criativo - algo natural pra ela. Há dias em que ela não escreve, não há sobre o que escrever, então ela não escreve. Os filhos sempre a viram escrevendo ou traduzindo e, naturalmente, tornaram-se filhos de mãe escritora.

Véspera do dia das mães e Lya fala sobre família. Diz que devemos cultivar as coisas humanas em um mundo cruel e ressalta que encontros nessas datas são bem-vindos pra trocar carinhos, abraços, beijos, afeto. Para Lya, esta é uma forma de resistir à comercialização.

Manhã temperada pelo outono e colorida de passarinhos. Passeio pelo café e jardins internos do Palácio das Artes. Em uma mesa, um casal parece brigar. Mas o dia nem começou!? Uma briguinha matinal pra esquentar o dia. E o café esfriando, enquanto eles se desentendem. Há casais que só brigam nas refeições. Por hábito. Conheci um casal que viveu feliz assim, brigando, por 42 anos, no café da manhã. Esse casal jovem está começando a trilhar os caminhos estranhos da felicidade - pensei.

Volto pra casa. Sábado interessante este... O que parece ser briga pode ser que não seja. E o que não parece ser, pode ser que seja. Artes do amor. Mirabolantes. Briguinhas matutinas acontecem por excesso de cuidado, de ocupação com o outro, ou por implicância mesmo, mas jamais por indiferença ou frieza. O café até pode esfriar... Ele que esfrie! E enquanto esfria, a espera amansa os ânimos, adoçando o mau humor. Tem gente que levanta com humor do cão. Com bom-dia ou sem bom-dia, a patada é certa. Melhor dar bom-dia logo. Milagres, dizem, acontecem.

No elevador vazio, ninguém a quem dar bom-dia, ou melhor, boa-tarde, e o espelho reflete triunfantemente: "Oi, essa etiqueta branca aí, essa aí, pouco discreta, não está do lado errado? Não era pra estar do lado de dentro?" O colete, ah! meu colete, está ao contrário. Zombo do espelho: De que adianta? Levemente do avesso estou.


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Viviane Campos Moreira
Postado em Balaio da Vivi

2 comentários:

  1. Pois é Vivi. Que bom que vc assistiu a palestra da Lia.

    Tem certas coisas que é melhor fecharmos os olhos.

    Fazer de conta que não vimos.

    Nada custa um bom dia, um sorriso, um pedido de desculpas.

    Faz a vida se tornar mais bela.

    Mas nem todos tem esta maturidade e crescimento.

    Um beijo...estava com saudades de vc!!

    Ma Ferreira

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  2. Puxa, Ma, vc disse tudo!

    Foi bem legal o papo com a Lya.

    Uma ótima semana desconcertante pra vc!

    Bjo e grata pelo carinho.

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