sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Melhor que Rivotril... só outro rivotril!

Parece piada, mas não é. O aumento do consumo de Rivotril, tarja preta baratinho e queridinho de muitos - adultos e  crianças - usado para acalmar, para dormir, para não chorar etc., em casos de ansiedade, estresse, insônia, tristeza e depressão, aponta para a dificuldade da sociedade em lidar com seus sintomas.

Segundo levantamento* feito pelo Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais (Sinfarmig), o consumo de Rivotril, distribuído pelo SUS, em 10 cidades de Minas avaliadas pela pesquisa (Bonfim, Piedade das Gerais, Santa Luzia, Contagem, Conceição do Mato Dentro, Lagoa Santa, Ouro Preto, Belo Horizonte, Betim e São José da Lapa) atingiu mais de 15 milhões de comprimidos em 2012. Na pequena cidade de Bonfim, com 6,8 mil habitantes, foram distribuídos 70 mil comprimidos, dando uma média de 10,36 comprimidos por habitante.

Rilke Novato Públio, diretor do Sindicato, chama atenção para o que esses dados representam."Os dados da Sinfarmig se referem aos remédios distribuídos pelo SUS, não contemplam as compras feitas em farmácias privadas. Por isso, a situação é perigosa. Trata-se de um consumo expressivo e um grave problema de saúde pública que merece a atenção das autoridades."

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2011, foram vendidas 18,45 milhões de caixas com 30 comprimidos (553 milhões de pílulas) nas farmácias brasileiras. Em relação a 2011, houve um aumento de 36% no consumo de Rivotril.

O Sindicato prevê, para este ano, um aumento significativo no consumo da droga. Em BH, foram distribuídos, em 2012, 8,6 milhões de comprimidos na rede pública. Estima-se, para 2013, que o consumo chegue a 17 milhões - quase 9 comprimidos para cada habitante.

Para Luciano Carneiro de Lima, terapeuta comunitário da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, "vivemos em um mundo cada vez mais consumista, as pessoas procuram soluções rápidas e estão pouco tolerantes com as frustrações." E segundo Paulo Repsold, diretor da Associação Mineira de Psiquiatria, "o medicamento é mais fácil de viciar que o álcool e a cocaína. O paciente não pode largar a medicação de uma hora para outra, pois entra em síndrome de abstinência." Repsold alerta que o Rivotril pode representar um tratamento para depressão pela metade. "Ele não é um antidepressivo, mas atua associado aos que são. No entanto, ao medicá-lo para tratar a doença, há o risco de a depressão não estar sendo tratada. Para a doença, vai funcionar como analgésico, assim, a pessoa continua deprimida, sem concentração, mas está tranquila e calma."


*Fonte: Estado de Minas de 25/1/13 - Gerais - p.17 e p.18.


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Recentemente, Eliane Brum entrevistou a psicóloga do SUS de Juiz de Fora Rita de Cássia de Araújo Almeida que atua no CAPS (saúde mental), há 15 anos. Rita de Cássia conta que houve uma mudança nas pessoas em relação à felicidade: "vivemos sob a ditadura da felicidade" e isso, de certa forma, reflete na maneira como as pessoas lidam hoje com os momentos de infelicidade.

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