Duas heroínas, uma no cinema, outra no teatro, encontram-se na escolha pela vida.
Em séculos distintos, Laura Brown e Nora cumpriam seus papéis de esposa e de mãe, quando decidiram reescrever suas histórias. Laura Brown (Julianne Moore) no filme As horas, de Stephen Daldry. Nora, personagem da peça Casa de Bonecas do norueguês Henrik Ibsen, representada, nos anos 1970, por Tônia Carrero.
A personagem do filme As Horas, Laura Brown, uma mulher angustiada com os lugares que lhe foram dados. O discurso do marido não a ajudava e a atenção exigida pelo filho a sufocava. Ensaia a própria morte. Estava grávida e lendo o romance Mrs. Dalloway de Virginia Woolf, subitamente, desiste da morte.
Tempos depois, a personagem aparece velhinha no enterro do filho Richard Brown (Ed Harris), escritor premiado, que havia se suicidado. Clarissa (Meryl Streep), amiga do filho de Laura, toma para si o acerto de contas dele com a mãe e lhe pergunta por que ela havia abandonado o filho. Laura responde: "É estranho sobreviver a todos, mas, naquela tarde, eu escolhi a vida à morte." Os outros estavam mortos. Todos mortos.
O drama da personagem remete ao de Nora da peça Casa de Bonecas, escrita no século XIX. Nora era bem casada e, seguindo os rumos certos de uma época, se depara com uma inquietude que não se cala. O marido a amava e a tratava carinhosamente como "minha cotoviazinha". Nora podia voar, mas, ao pousar, permanecia boneca. Ora cotovia, ora boneca, o marido respondia pelos seus passos.
No último ato, Nora arruma suas malas e diz ao marido que deseja viver "a vida de um ser humano”. Fecha-se a porta da casa na qual ela não se reconhece mais.
Contextos fortes. Entre a vida e a morte, o desejo de viver.
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Viviane C. Moreira.
Publicado originalmente no videbloguinho.
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