segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

De olho na felicidade

A felicidade interessa. Tornou-se interessante e movimenta muito dinheiro. Quem diria que teríamos uma "indústria da felicidade"?

É o que se pode concluir a partir dos dados do IMS Health, instituto de pesquisa que faz auditoria para o mercado de medicamentos - em"Comércio de Medicamentos", matéria do Estado de Minas*:

  • o mercado de antidepressivos não para de crescer e no ano passado movimentou R$ 1,85 bilhão;
  • em 2012, foram vendidas 42,33 milhões de caixas dos remédios que ajudam amenizar desde depressão até a insônia de quem não consegue relaxar, tamanho o estresse do dia;
  • com preços que podem ir de R$ 8 a mais de R$ 200, a venda de antidepressivos e ansiolíticos coloca o Brasil na liderança mundial;
  • medicamentos como o clonazepam, princípio ativo do ansiolítico Rivotril, estão entre os mais vendidos do país, à frente até mesmo das pílulas anticoncepcionais e analgésicos;
  • no Brasil, o faturamento com a comercialização desses medicamentos cresceu mais de 200% nos últimos 6 anos;
  • depois de investir bilhões de dólares, a indústria farmacêutica, para muitos, desvendou a química da felicidade.

*Fonte: Estado de Minas de 26/1/13, Economia, p. 10.


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Será que a felicidade que tanto queremos e buscamos virou felicidade química?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Melhor que Rivotril... só outro rivotril!

Parece piada, mas não é. O aumento do consumo de Rivotril, tarja preta baratinho e queridinho de muitos - adultos e  crianças - usado para acalmar, para dormir, para não chorar etc., em casos de ansiedade, estresse, insônia, tristeza e depressão, aponta para a dificuldade da sociedade em lidar com seus sintomas.

Segundo levantamento* feito pelo Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais (Sinfarmig), o consumo de Rivotril, distribuído pelo SUS, em 10 cidades de Minas avaliadas pela pesquisa (Bonfim, Piedade das Gerais, Santa Luzia, Contagem, Conceição do Mato Dentro, Lagoa Santa, Ouro Preto, Belo Horizonte, Betim e São José da Lapa) atingiu mais de 15 milhões de comprimidos em 2012. Na pequena cidade de Bonfim, com 6,8 mil habitantes, foram distribuídos 70 mil comprimidos, dando uma média de 10,36 comprimidos por habitante.

Rilke Novato Públio, diretor do Sindicato, chama atenção para o que esses dados representam."Os dados da Sinfarmig se referem aos remédios distribuídos pelo SUS, não contemplam as compras feitas em farmácias privadas. Por isso, a situação é perigosa. Trata-se de um consumo expressivo e um grave problema de saúde pública que merece a atenção das autoridades."

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2011, foram vendidas 18,45 milhões de caixas com 30 comprimidos (553 milhões de pílulas) nas farmácias brasileiras. Em relação a 2011, houve um aumento de 36% no consumo de Rivotril.

O Sindicato prevê, para este ano, um aumento significativo no consumo da droga. Em BH, foram distribuídos, em 2012, 8,6 milhões de comprimidos na rede pública. Estima-se, para 2013, que o consumo chegue a 17 milhões - quase 9 comprimidos para cada habitante.

Para Luciano Carneiro de Lima, terapeuta comunitário da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, "vivemos em um mundo cada vez mais consumista, as pessoas procuram soluções rápidas e estão pouco tolerantes com as frustrações." E segundo Paulo Repsold, diretor da Associação Mineira de Psiquiatria, "o medicamento é mais fácil de viciar que o álcool e a cocaína. O paciente não pode largar a medicação de uma hora para outra, pois entra em síndrome de abstinência." Repsold alerta que o Rivotril pode representar um tratamento para depressão pela metade. "Ele não é um antidepressivo, mas atua associado aos que são. No entanto, ao medicá-lo para tratar a doença, há o risco de a depressão não estar sendo tratada. Para a doença, vai funcionar como analgésico, assim, a pessoa continua deprimida, sem concentração, mas está tranquila e calma."


*Fonte: Estado de Minas de 25/1/13 - Gerais - p.17 e p.18.


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Recentemente, Eliane Brum entrevistou a psicóloga do SUS de Juiz de Fora Rita de Cássia de Araújo Almeida que atua no CAPS (saúde mental), há 15 anos. Rita de Cássia conta que houve uma mudança nas pessoas em relação à felicidade: "vivemos sob a ditadura da felicidade" e isso, de certa forma, reflete na maneira como as pessoas lidam hoje com os momentos de infelicidade.

Mais: aqui

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Braga & Vinicius


2013 e seus homenageados: Vinicius de Moraes e Rubem Braga, centenário de ambos.

Rubem Braga completaria 100 anos em 12/1/13. Vinicius, em 19/10/13. Dois nomes, dois homens, dois amigos. Diálogos na literatura. A literatura brasileira ganhou feições novas com os estilos de Vinicius e de Braga. Rubem Braga inovou na crônica fazendo poesia em prosa e Vinicius foi muitos, tanto na literatura como na música.

Haja homenagens! Falando em homenagens - e que sejam bem homenageados ao longo de 2013 - um costumava conversar com o outro estilisticamente, como diz Affonso Romano de Santanna, no prefácio do livro de poemas de Rubem Braga - que era cronista.
Braga também escreveu poemas (alguns) que foram reunidos e publicados em "Livro de Versos".

BILHETE PARA LOS ANGELES

Tu, que te chamas Vinicius
De Moares, inda que mais
Próprio fora que Imorais
Quem te conhece chamara -
Avis rara!

Tens uns olhos de menino
Doce, bonito e ladino
E és um calhordaço fino:
Só queres amor e ócio,
Capadócio!

Quando a viola ponteias
As damas cantando enleias
E as prendes em tuas teias -
Tanto mal que já fizeste,
Cafajeste!

Apesar do que, faz falta
Tua presença, que a malta
Do Rio pede em voz alta:
Deus te dê vida e saúde
Em Hollywood!

Rio, 1949

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Rubem Braga em Livro de Versos