quinta-feira, 29 de setembro de 2011

MENSAGEM PARA CARLOS


Ma Ferreira*



mão que desliza pelo meu corpo
e serpenteia vagarosa entre os cantos dos meus sentidos

mão que escorrega em meus abrigos
e repousa mansa no ventre que me encobre

mão que desterra minhas certezas
liberta-me dos caprichos daquela que me tolhe

mão que afaga meus temores
e penetra nos poros abertos dos meus mistérios

mão que desvela meus segredos
e resvala no corrimão frio dos meus vazios

mão que borda meus encantos
arremata meus desenganos

mão que tece nosso encontro
costura o meio-termo do meu desejo

mão que encerra o tempo:
o início e o fim das minhas mutações;

a mão que me prende alheia
sem dizer de mim

a mão que me abandona frouxa
sem saber de mim

precipita minha partida:

meus ombros não suportam
o silêncio de um amor caduco



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Viviane Campos Moreira em AMOR EM PEDAÇOS & VERSOS.
Postado em videbloguinho.

*Imagem cedida por Ma Ferreira, autora da peça.
Blog: ARTE EM CERÂMICA.

Mais: A VINGANÇA DE EROS.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

De mãos dadas com a primavera


Minha caricatura - agência QG7.


Poesia com a primavera no AMOR EM PEDAÇOS & VERSOS.
Hoje, foi postado um poema do Fernando da Mota Lima, que fala de uma certa primavera...
Outros poemas inéditos serão postados - toda sexta-feira no videbloguinho.
Vem com a gente, vem!

Acesse aqui.

domingo, 18 de setembro de 2011

Primavera


Ma Ferreira - peça de cerâmica.




O que nela encontraremos?

Quais surpresas ela nos reserva?

Desejos?

Lembranças?

Sonhos ainda não sonhados?

Clamores da natureza?

Uma saudade?

O calor da vida?

Beleza. Estranhamento. Amor.




*



Nós do AMOR EM PEDAÇOS & VERSOS teremos como convidado, nesta primavera, Fernando da Mota Lima - do blog Literatura e Crítica Cultural – e colaborador do blog Amálgama. E continuaremos a contar com a colaboração da ceramista Ma Ferreira – do blog Arte em Cerâmica - que cede imagens de suas peças para ilustrar nossos poemas.

Vamos abrir as gavetas, soltar a língua e deixar a primavera entrar!

Toda sexta-feira, um poema inédito será postado no AMOR EM PEDAÇOS & VERSOS, no videbloguinho.


Saudações perfumadas!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O amor, além do divã


Malvine Zalcberg.
Foto: Isaac Merkman.


Entrevistei a psicanalista Malvine Zalcberg no blog Amálgama.

Um papo sobre o amor entre homem e mulher, entre mãe e filha, e sobre o amor na constituição da feminilidade. Como anda essa história hoje, com as transformações na sexualidade feminina?

Malvine participou, recentemente, da 15ª Bienal do Livro, no Rio, no Café Literário, ao lado da escritora norte-americana Kim Edwards, autora de O guardião de memórias (The memory Keeper's daugther). Sobre o tema segredos de família, Malvine postou no seu blog Olhar de Psi, um texto interessante que aborda os reflexos desses segredos na vida de todos - tanto na vida daquele que esconde um segredo, quanto na do outro que é privado da verdade, contra a sua vontade.

Acesse a entrevista aqui.

*

Minha página no Amálgama: aqui

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Devaneios, dores e outras paixões

Nunca pensei que um dia eu pudesse deitar ao lado do Beto Guedes... Isso simplesmente aconteceu! Mal sabe o Beto que eu fui apaixonada por ele, loucamente apaixonada - eu e minhas amigas todas. Eu era vidrada em um LP dele - isso mesmo, long play! – que tinha, na capa, uma foto dele despenteado, com cabelo e cara de quem acabou de acordar, saiu da cama e foi direto pra janela ver o dia, enrolado em uma manta azul. Um homem, um menino selvagem, com o nome de Beto - como não se apaixonar, sendo uma adolescente?

Mas eu também era apaixonada pelo Lô, pelo Flávio, pelo Milton, por Caetano, Gil, Chico, pelo Ivan, sem falar do Zé, do Alceu, do Geraldo e do Vinicius. Ah, pelo Vinicius, sou apaixonada desde  garotinha, por causa de uma prima, mais velha do que eu, que tocava, no violão, as canções dele. E também por causa de minha mãe que preferia ser alegre a ser triste.

Às vezes, herdamos paixões dos irmãos e dos primos mais velhos, dos pais, professores, amigos, namorados... Com o Beto, não. Não foi assim. Essa paixão foi toda minha. Eu ainda morava no interior e sonhava com o show dele... Minhas primas, que moravam em BH, me contavam que tinham ido ao show do Beto e eu sonhava, sonhava com meus 15 anos... Desejava que eles chegassem depressa. "Quando eu fizer 15, vou morar em BH, aí sim! vou poder ir aos shows do Beto, do Lô, do 14 Bis, do Sagrado... e, quando vier para as férias de julho, vou contar para as minhas amigas daqui como foi estar com eles no mesmo espaço, tão perto, quase podendo tocá-los." E assim foi...

Deitada na cama, ao lado da dele, fiquei imaginando se ele gostaria, ou não, de saber que a mulher ali ao lado dele foi loucamente apaixonada por ele... (Tudo bem: eu e mais umas mil meninas!) Como eu diria isso a ele?  - Oi, Beto, tudo bem? Se eu te disser uma coisa, você não vai rir de mim? (Ele, sendo o Beto, responderia: "- Não, não vou rir de você. Por que eu riria? É alguma coisa engraçada?" - e daria aquele sorriso...) Eu, sem graça, ga-gue-ja-ri-a: - É, então, Beto, então, eu fui loucamente apaixonada por você!

- Tudo bem aí, Seu Beto? Pergunta a fisioterapeuta simpática.

Ele sorri, dizendo que sim. E eu ali, do lado, pensando... "Seu Beto? Ele é o Beto – o Beto! - aquele da capa do LP, com o cabelo sem pentear e uma manta azul sobre o corpo, na janela... O Beto!" E esta cena acontecendo em setembro, com a primavera chegando, ensolarada.

Olho para o lado esquerdo da minha cama e vejo duas senhoras se alongando, cada uma em sua cama, ambas animadas. E uma disse à outra:

- Você estava aqui, ontem, quando a Suzana falou que velhice é coisa do capeta? Quase caí da cama de tanto rir! Mas se eu caísse, ia ser um estrago. Imagina...

A amiga riu, e eu também.

- Dona Verônica, flexiona mais, pode flexionar mais, Dona Verônica! – falou com firmeza, a fisioterapeuta.

- E você, qual é a sua dor? Dona Verônica me perguntou. E antes que eu respondesse, ela me explicou:

- É assim, viu? As dores vão surgindo, de uma hora pra outra, mas, no seu caso, né, deve ser uma dorzinha boba, dessas que passam logo.

- Dona Verônicaaa, a perna. A perna, Dona Verônica, vai! – repreendeu a fisioterapeuta.

É, só sei que eu arrumei uma dorzinha até boa. Por conta dela, tenho me divertido com minhas vizinhas de cama e voltado ao tempo mágico das paixões feitas de sonho. Tudo isso não sendo desse jeito assim, mas sendo, em uma hora de sessão de fisioterapia - que voa.

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Viviane Campos Moreira
Postado em Balaio da Vivi